Melhor do que se acusar e revelar ao árbitro a autoria do choque involuntário com o goleiro Renan Ribeiro, impedindo o cartão amarelo injusto para Jô no clássico entre São Paulo e Corinthians, foi a entrevista de Rodrigo Caio à saída de campo.
Quando todos imaginavam que ele ia surfar na onda de bonzinho e pagar o discurso marqueteiro de honesto, quando se sabe que ser honesto é mera obrigação, o zagueiro da Seleção foi lacônico. Nem parou para falar: “Nada demais: só fiz o certo”.
Gostei da maneira como ele tratou o próprio gesto, sem exibicionismos.
O fato é que a atitude de Rodrigo Caio não podia causar tal nível de espanto, como se ele fosse um santo. Não em país sadio.
Ainda mais com tantas câmeras flagrando que foi ele, e não Jô, o autor do pisão no goleiro do próprio time. Ia ficar até chato ele deixar passar.
Ocorre que o moral do país está tão no fundo do poço, pela roubalheira indiscriminada, que dizer a verdade virou caso de celebração. E nem falo só da corrupção, propriamente. Também isso, mas não só isso.
Há certos privilégios, como os auxílios disso e daquilo do Poder Judiciário, que não são ilegais, eu sei, mas debocham da população.
Em quem acreditar?
Talvez seja ceticismo de minha parte, mas duvido que torcida e até dirigentes aceitassem atitudes como a do alemão Miroslav Klose, o artilheiro das Copas.
Em 2012, ele avisou o árbitro que havia feito um gol de mão na derrota do seu time, a Lazio, por 3 a 0. E era contra o Napoli.
A Federação Alemã lhe concedeu o troféu Fair-Play, mas Klose recusou o prêmio em dinheiro. Exatamente como fizera em 2005, ao desmarcar um pênalti não sofrido por ele, mas assinalado pelo árbitro, aí atuando no Werder Bremen.
Parabéns a Rodrigo Caio, mas a histeria diante de seu gesto mostra a que ponto chegamos.