Luis Vagner Vivian tem 36 anos. É gaúcho de Caçapava do Sul e formado em Educação Física em Santa Maria, pela UFSM. Depois de muitas especializações e cursos de gestão, ocupa o cargo de supervisor da Seleção Brasileira, onde chegou no fim de 2014, egresso do Grêmio. Para se ter ideia do gigantismo e importância de sua tarefa em 2018, basta dizer que já foi quatro vezes à Rússia. Inspecionou 30 campos de treinamento e visitou um sem número de hotéis. Até a comida passa por ele. Concede poucas entrevistas: o coordenador Edu Gaspar é o porta voz. Mas nada aconteceria sem as questões operárias tocadas por Luis Vagner. Confira o meu papo com uma peça chave dos bastidores da preparação brasileira rumo ao Hexa.
Como está a logística da Copa?
Só não fui a quatro cidades nas quais poderemos eventualmente jogar. A Rússia não é o país do futebol, como o Brasil. Há paixão pelo esporte, mas menos do que nós. Há menos locais de treinamento. É tudo muito centralizado em Moscou e São Petesburgo. É um país de distâncias continentais, mas as sedes estão concentradas em um raio menor por esse motivo. O voo mais longo tem 3h50min. E serão todos fretados. Perderemos menos tempo voando e esperando em aeroportos do que em muitos jogos das Eliminatórias.
O Brasil já sabe onde vai ficar?
Até janeiro definiremos o base camp (CT base), que passará pelo sorteio dos grupos, em dezembro. A partir daí avaliaremos, com todo o mapeamento dos locais que visitamos, se vamos jogar e voltar para o base camp ou seremos mochileiros em algum momento, indo diretamente para o próximo jogo. Vai depender muito do sorteio. Há muitos bons hotéis sem base camps por perto. Queremos unir estruturas adequadas de hospedagem e treino. Das 68 opções de base camps da Rússia, já visitei 30.
Qual a maior dificuldade?
A comunicação. Os hotéis de bandeira russa, que não seguem o padrão internacional, não se preocupam com isso. Exemplo: o pessoal da rouparia terá um tradutor o tempo todo. E assim será para cada setor da delegação. A comida também é muito diferente. Não tem feijão e carne seca em todo o lugar (risos). Temos de prever tudo isso. Levaremos quase tudo daqui.
E os casos recorrentes de racismo na Rússia?
Isso é com a Fifa e o comitê organizador local. A campanha contra o racismo é gigante na Fifa. Sabemos que já aconteceu nos estádios, até com jogadores brasileiros. Nas vezes em que estivemos lá, tudo certo.
Os CTs russos permitem treino fechado?
Sim, mas não tem sido essa a prática do Tite.
E a segurança, após o atentado em São Petesburgo?
Já tem um esquema montado pela Fifa. O setor da CBF encarregado disso está trabalhando em conjunto. Fui ao sorteio das Eliminatórias, primeiro evento oficial de 2018. A preocupação já era enorme das autoridades. Cada seleção receberá um plano de segurança, conforme sua sede. Me senti muito seguro nos eventos Fifa quando lá estive: raio x para tudo e muitos homens à paisana.
Quantos celulares você usa?
O meu e o da CBF (risos). Compraremos aparelhos locais lá. Estou em quatro grupos no whatts: logística, comissão técnica, jogadores e apoio. Não posso me perder nas mensagens (risos).
Em períodos de jogo, quantas horas de sono?
Na última convocação, quatro. Mas já virei a noite várias vezes sem pregar o olho. Tem os fusos, e aí tens de resolver no contraturno.
Qual o segredo para não errar?
O segredo é o planejamento: tem de prever tudo antes. Fazemos duas vistorias antes de cada local a ser usado pela Seleção. Aí batemos o martelo com a comissão técnica e voltamos para uma vistoria de operações, mais específica. E ainda mandamos equipes dois ou três dias antes para repassar todos os procedimentos. Tem de tentar antever: do contrário, você tá morto.
Qual o pior imprevisto?
Na Copa América dos EUA, teve aquele tiroteio. Recebi a notícia antes de as TVS noticiarem. Nosso ônibus já estava saindo. Como eu ia prever tiroteio no local do treino (risos)? Trabalhamos com erro zero, mas nem sempre é possível.
Onde ficarão os familiares dos jogadores?
Não definimos. Eles precisam de estrutura diferente, até para passar o tempo. No nosso caso, queremos aproximar a Seleção da torcida. Havia críticas de que os jogadores não circulavam pelo saguão do hotel. Estamos ajustando com as regras de segurança. Não queremos confinamento. A Seleção é do povo.