Não faz muito, Renato Portaluppi, recebeu jornalistas da RBS para um papo fora do ambiente de trabalho. Foi lá na fazenda do Pedro Ernesto (ele, o Pedro, diz que é sítio), em Viamão, entre plantações de produtos orgânicos, a brisa soprando por entre as árvores e os grilos cantando, porque os grilos cantam quando a noite chega. Era um jantar, com churrasco.
Renato é um homem feliz. Astral lá no alto, uma piada na ponta da língua ou uma história bem contada de riso coletivo. Nada é mais importante do que viver e estar de bem com a vida, o bem mais precioso de que dispomos. Renato está certo. Todo o resto tem de estar subordinado à vida. É curioso vê-lo todo sério, dando entrevistas algo sisudas. Parece sempre que ele vai piscar o olho e soltar uma risada.
Valdívia, o jovem atacante do Inter, era assim.
Não se preocupava com media training e gestores de crise. Dizia o que pensava. Brincava com os amigos, adversários ou não. Gravava vídeos de rolar de rir no Instagram. Não xingava ninguém. As pessoas, ao seu redor, se divertiam com ele. O país o conheceu assim, feliz, sem maldade, tirando onda de si mesmo, à caminho da Olimpíada. Aí Valdívia operou o joelho, perdeu a Rio-2016 e voltou no pior momento da história do Inter, rumo à Série B.
Em vez de encontrar um time sólido, que o ajudasse no retorno lento e gradual, ocorreu o inverso: tinha de salvar a pátria. Marcou belos gols, mas errou um pênalti contra o São Paulo e ficou injustamente marcado. O choro de Valdívia ao ser entrevistado, depois de marcar um belo gol de falta, relatando perseguições e intolerâncias, merece reflexão.
A vaia quando ele entrou foi cruel. Sei que chegou a apagar sua conta no Instagram por um tempo, tal a virulência dos comentários. O torcedor é apaixonado e nem sempre faz por mal, eu sei, mas é preciso refletir. O nível de insensatez nas horas ruins beira a babaquice. Por mais que a paixão distorça, ainda é só futebol. Não podemos perder essa dimensão de vida, a vida que Renato namora com fidelidade.
Se é verdade que violência gera violência, um gesto de ódio torna o seguinte muito pior. Colorados e gremistas têm de torcer para Valdívia voltar a sorrir pelo que representa um guri do bem, de vermelho ou de azul, pedindo abraço para aplacar o sofrimento.
O mundo é maior do que o Gre-Nal.