Até agora, mesmo nos tropeços, foram só amenidades. Aos olhos do país, o 2017 de Grêmio e Inter começa às ganhas neste sábado. Trata-se de um clássico em que o Grêmio chega muito melhor. Quando a bola rolar na Arena, e dependendo de como a bola rolar, isso pode valer menos do que um sapato velho, eu sei, mas só um olhar de torcedor fanático para ver igualdade entre um time de Série B, derrotado e em formação, contra outro de Série A, campeão e entrosado. Alinhei algumas questões que julgo relevantes na edição 412 de uma das 10 maiores rivalidades do mundo, segundo a revista inglesa FourFourTwo. Antes, um pedido: que as organizadas deixem o Gre-Nal em paz e não briguem. Ninguém aguenta mais. Bom clássico para todos nós.
Vamos conversar? – Seria bom, para o Grêmio, Jailson se soltar. Ele parecia jogar com mais naturalidade sem o peso da titularidade. Trocava passes, ia à frente, entrava na área. Até gol fazia. Na sua primeira aparição, estufou a rede da Chapecoense. Desde que assumiu oficialmente a vaga de Walace, no entanto, transformou-se em um volante comum. Muito aquém do papel exercido por Walace na campanha do título da Copa do Brasil. O Gre-Nal, pelo significado que tem, é o cenário perfeito para Jailson retomar a confiança e voltar a ser o mesmo de quando surgiu: participativo, marcador, corajoso. Uma conversa com Renato, mestre nesta arte, talvez resolva.
Futuro azul – O Grêmio campeão da Copa do Brasil começava o seu jogo ofensivo pelos volantes construtores, mesmo quando Douglas vinha cá embaixo dar a cadência do samba. Se Jailson se esconder apenas nas lides defensivas e não participar ativamente quando o Grêmio recuperar a bola, bastará ao Inter marcar Maicon. Ainda haverá Bolaños, claro, mas é óbvio que a mecânica da troca de passes poderá sofrer abalos e até emperrar. É um ajuste que Renato terá de fazer. Quem sabe uma boa conversa, arte da qual o técnico gremista é especialista, resolva a questão e ajude Jailson a, de fato, ser o substituto de Walace. Algo que, por enquanto, o volante de 21 anos não é. A Libertadores começa em seis dias para o Grêmio.
Onde a diferença é gritante – Há um setor em que a diferença de qualidade grita no Gre-Nal: a zaga. O Inter nem sabe direito qual é a sua e a torcida nutre uma relação de amor e ódio (mais ódio) com Paulão. Ortiz é incógnita. O Grêmio escala Pedro Geromel e Kannemann como se tivesse dois xerifes e um só distintivo. Geromel foi parar na Seleção, inclusive. Seja qual for o resultado, mesmo que a dupla de área gremista esteja no seu pior dia ou Paulão vire Cinderela e jogue como Piqué até a meia-noite, ainda assim o sábado terá terminado com uma certeza: o Inter (Victor Cuesta vem aí) tem de qualificar o seu miolo de área. O Grêmio, não. Aqui, resultado algum pode enganar a análise.
Futuro vermelho – Falando em volantes construtores, que jogam em vez de só destruir, algo essencial no futebol moderno, o Inter tem um bastante promissor. Repare que o crescimento enquanto time (tênue ainda, mas antes era o nada) coincide com o ingresso de Charles. O jovem de 20 anos melhorou o meio-campo do Inter. Agora Dourado tem alguém que fala a mesma língua ao seu lado. Se a ideia é aproximar e trocar o dobro de passes do ano passado em nome de um novo conceito de futebol, Charles caiu do céu. Com Anselmo e assemelhados, seria impossível. O Gre-Nal é particularmente importante para afirmar Charles, emblema de uma nova ideia no Inter.
Mistérios e palpites – Se o Inter sofre com a bola aérea e tem na zaga o seu ponto fraco, eu iria de Lucas Barrios desde início sem piscar, caso estivesse na pele de Renato. D’Alessandro não treinou. Não? Nem com portões fechados? Se eu contasse com um especialista em Gre-Nal como D’Alessandro e estivesse na pele de Antônio Carlos Zago, faria de tudo para escalá-lo. Tudo indica o contrário, mas meu palpite,
Terapias – O grito de ão, ão, ão segunda divisão, entalado na garganta gremista desde o primeiro rebaixamento a partir da flauta colorada, rugirá na Arena. Serão os gremistas exorcizando velhos traumas. Os colorados terão de matar no peito e aprender a lidar com os seus, para fazer a Série B doer menos. A terapia começa neste sábado.