Aqui entre nós: o rebaixamento do Inter era fato consumado há semanas. O jogo deste domingo, contra um Fluminense desfalcado, naquele cenário deprimente de Édson Passos, típico de Série B, foi só para cumprir tabela. Ouvi que nada é pior do que não depender de si mesmo. Pois nem isso dá para dizer deste Inter de 2016, um time capaz de passar 14 jogos sem vitória, perdendo chance atrás de chance em casa contra adversários ruins. O epílogo do pior enredo colorado foi um emblema. O Inter nunca fez a sua parte. Menos ainda ontem, apático desde o início, reclamando do calor. O empate em 1 a 1 não adiantaria nem se o Sport tivesse perdido para o Figueira. Escrevi lá atrás: clube grande cai, sim, Piffero.
Bem, e agora?
PODE SER BOM – Penso que a Série B será boa para o Inter. Era preciso tocar o fundo do poço para a ficha cair. Do jeito que estava, seriam anos no limbo, quem sabe apenas no fio da navalha para não cair e arrotando as glórias da década passada. Há anos a vida colorada vem se afundando em brigas de poder que, a cada eleição, afastam inteligências antes parceiras na hora de olhar o futuro. Há uma década, no Mundial de 2006, eram todos pelo Inter. Agora, muitos dirigentes nem se falam. Quem pagou a conta? A torcida, que hoje sofre.
CAMINHO – A queda tem de servir para um banho de humildade. Para colocar a viola no saco, ouvir as cornetas com resignação. E trabalhar duro. Há muito pela frente e, sem união de verdade na dor, pode piorar. É hora de deixar vaidades de lado. Pior do que cair é não subir. Cair não é vergonha. É do esporte. Instituições populares e centenárias passam por momentos bons e ruins. Reerguer-se é bonito, desde que seja feito com dignidade – sem tapetão. A torcida, que chorou e cantou o hino ontem com orgulho, parece-me preparada. E os dirigentes: estarão dispostos a deixar briguinhas de lado?
FUTURO – A vitória de Marcelo Medeiros com 94% dos votos foi, como diria Leonel Brizola, um não rotundo à Vitorio Piffero, o grande culpado pelo rebaixamento, em razão da postura arrogante que se espalhou por vários setores do clube. O slogan megalomaníaco segundo o qual “clube grande não cai” apareceu em entrevistas mesmo com a água já batendo no queixo. Pedro Affatato, o representante de Piffero, mal chegou a 5%. A tarefa de Medeiros é do tamanho de sua votação. O futebol do Inter está em frangalhos. Quem, da base, está pronto para ser titular? Ninguém foi preparado.
EXECUTIVO – Além de Antônio Carlos Zago como técnico, o Inter também deve anunciar nesta segunda-feira Jorge Macedo para ser o seu executivo de futebol em 2017. Formado no Beira-Rio, natural de Rio Grande, ele passou por vários cargos de gestão na base desde as escolinhas, a partir de 1996. Estava no clube até março deste ano, quando o Fluminense foi buscá-lo para retomar um trabalho que ele mesmo já havia feito nas Laranjeiras em 2010 e 2011. Retorna ao seu clube do coração com a tarefa de ajeitar também a base.
AMADORISMO – A falta de profissionalização no futebol durante a maior parte da gestão foi a mãe de todos os erros rumo à queda. O amadorismo cobrou o seu preço, na montagem do elenco e nas contratações erradas, algumas na base da dica do amigo, sem informações mínimas. Uma entrada no Google talvez impedisse micos como Leandro Almeida e Paulo Cézar Magalhães. Ou Anderson, que veio sem nenhum indicativo técnico que o sustentasse, após várias temporadas lamentáveis no Manchester United. Mas ele disse a Piffero que era colorado e queria voltar a POA. Pronto: contratado. Deu no que deu, como se viu em Edson Passos.