Bolsonaro arreglou. Na terça-feira, 7 de setembro, rugiu feito um leão para as multidões que o aplaudiam em Brasília e, depois, em São Paulo. De dentes rilhados, ameaçou o STF, avisou que não cumpriria determinações judiciais do ministro Alexandre de Moraes, jurou que só morto deixaria o poder. Tudo muito grandioso, muito viril. Seus apoiadores, dezenas de milhares deles, urraram de contentamento.
Ao mesmo tempo, os caminhoneiros promoviam uma paralisação nacional que, se não foi convocada por ele, contou com seu endosso. Bolsonaro mostrava sua musculatura política e parecia caminhar para a ruptura institucional.
No meio da tarde, escrevi um texto em que, na abertura, perguntava:
“Afinal, qual é a intenção de Bolsonaro?”
Naquele momento, ele próprio começava a dar a resposta. Primeiro, publicou um áudio em que pedia para os caminhoneiros se desmobilizarem. Sua fala não tinha a energia costumeira. Bolsonaro parecia desanimado, talvez contrafeito. Rogou, em voz muito mais baixa do que seu tom usual:
"Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Dá um toque nos caras aí para liberar. Deixa com a gente em Brasília aqui, agora. Não é fácil negociar com outras autoridades, mas vamos fazer nossa parte, vamos buscar uma solução para isso".
Zé Trovão, um dos líderes dos caminhoneiros, publicou, em resposta, um vídeo em que duvidava da autenticidade do áudio, mas garantia que, se fosse verdadeiro, as estradas seriam liberadas. De fato, foram, aos poucos, no decorrer do dia.
Mais tarde, Bolsonaro liberou uma “Declaração à Nação” na qual desdizia tudo o que disse nas manifestações do dia 7.
“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos poderes”, jurava. “Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento”.
Em resumo, ficaram claras as intenções de Bolsonaro: ele estava testando os seus limites. Mobilizou todas as suas forças, apresentou todas as suas armas e esperou para ver se essa demonstração de força seria suficiente para intimidar a oposição, o Judiciário, o Legislativo, os estamentos da nação. Não foi. Houve reação.
Mas o que de fato importou não foi a vigorosa resposta dada pelo presidente do STF, Luiz Fux, nem as declarações indignadas dos parlamentares ou a dura crítica de articulistas da imprensa. Nada disso. Bolsonaro se abalou, sobretudo, com os reflexos que suas atitudes produziram no mercado.
Não podia ser diferente. No momento em que o próprio presidente da República se transforma num fator de desestabilização do país, a economia sente o impacto, o dinheiro foge para lugares menos hostis e quem poderia investir em qualquer coisa faz o mais sensato: cessa tudo, e espera.
Bolsonaro sentiu que foi longe demais e recuou. Não deixa de ser um bom sinal, neste tempo em que as notícias parecem sempre ser tão ruins.