Sei como salvar o Brasil. Sei como restaurar a harmonia nesta nação conflagrada.
Tenho a solução, para que reencontremos a paz.
É simples: vamos dividir o Brasil em três países novos. Um será bolsonarista, o segundo será lulista e o terceiro não será nem um nem outro, será... normal.
O Brasil bolsonarista será o Brasil do Oeste. Lá, todos andarão armados nas ruas e, em vez de vacina contra a Covid, tomarão Cloroquina e Ivermectina uma vez por semana. No Brasil do Oeste não tem esse mimimi de reclamar de discriminação ou preconceito. Na verdade, não tem mimimi de reclamar de nada. Se alguém não gostou de algo que o outro disse, resolva na bala. Não haverá eleição, no Brasil do Oeste. Não precisa. Depois do Mito, os presidentes serão os filhos do Mito, e a família continuará em revezamento, como na Coreia do Norte.
O Brasil lulista será o Brasil do Nordeste. É para lá que vão a Petrobras, a Eletrobras e outras estatais, que financiarão empresas “campeãs”, que, por sua vez, financiarão o governo. Todo mundo se ajudando. O Brasil do Nordeste lutará sempre contra a sociedade patriarcal, branca e eurocentrada, cuidado com o que você fala por lá, você pode ser cancelado. Também não precisa eleição, no Brasil do Nordeste. Lula será o presidente e, depois, indicará os sucessores.
O terceiro Brasil será o Brasil do Leste. Neste, o presidente não vai gritar, não vai chorar, não vai dizer palavrão ou falar errado, não será pai dos pobres ou mito, não terá inimigos a combater ou façanhas a realizar. Ele será apenas uma pessoa comum, sem arroubos, sem sentimentalismos, talvez até sem graça. No Brasil do Leste não há campeões ou heróis. Não há líderes. Todos são iguais.
Para evitar que haja briga nas eleições, o Brasil do Leste será parlamentarista. O primeiro-ministro é quem tem poder – mas não muito.
O Twitter não fará grande sucesso, no Brasil do Leste. O Instagram, sim. Dirão, do brasileiro do Leste, que ele é o homem cordial.
Para que país você se mudará?
Como Renato é muito amigo do Bolsonaro, suponho que o Grêmio se transferirá para o Brasil do Oeste, onde enfrentará o Palmeiras. Como o Inter ganhou seus maiores títulos nos governos do PT, imagino que o Beira-Rio terá de ser removido para o Brasil do Nordeste, onde já estará o estádio do Corinthians. No Brasil do Leste talvez não haja times importantes, embora a população goste de futebol como nenhuma outra. Alguns estrangeiros talvez comentem, inclusive, que, se o brasileiro do Leste debatesse tanto política como debate futebol, seus problemas estariam todos resolvidos. Mas os brasileiros do Leste não cairão nessa. Eles continuarão olhando desconfiados para os políticos. Eles não terão ídolos a defender, nem bandeiras a desfraldar. Eles apenas falarão sobre seus clubes e seus amores. E pedirão mais um chope, um pouco entediados, mas bastante felizes.