Em 2016, Roger deixou para Renato um time quase pronto. Os bons jogadores estavam lá e havia um jeito de jogar bem assimilado por todos. O que faltava era algum retoque, algum ajuste. Que Renato soube fazer: passou Ramiro para o lado direito de ataque, fechando no meio-campo, ajudando o lateral; patrocinou a união estável entre Luan e Douglas; fixou Pedro Rocha na esquerda; temperou tudo com sua liderança jovial. E o time andou, e funcionou com envolvente naturalidade, e foi campeão.
Agora, aquele Renato, que até 2017 conquistou louros e louvações do Brasil inteiro, deixa para o Renato de 2021 um time despedaçado. Na verdade, não deixa um time, deixa farrapos de algo que um dia foi uma equipe de futebol. Por incúria do próprio Renato e da direção do clube, o Grêmio foi se iludindo com sucessos caseiros e com um discurso triunfalista que não correspondia à realidade. Assim, um grupo campeão foi desmontado paulatinamente, peça por peça, até se transformar na meleca amorfa desses dias pandêmicos de março.
Nesta quarta-feira, o Grêmio começa a temporada de 2021 sem ter quase nada. Não há certeza em nenhum setor: não há goleiro, não há defesa, não há meio-campo, não há ataque. Mas o pior é que não há personalidade. O Grêmio está sem identidade, não sabe o que fazer para conseguir o que quer. Contra o Palmeiras, sobretudo no segundo tempo, o time foi melancólico. Submeteu-se ao adversário sem demonstrar resistência, sem um grito de protesto, sem um único movimento de rebelião. Foi uma presa fácil, fez uma final de campeonato patética, quase indigna.
Romildo Bolzan optou por manter Renato por mais um ano. É o velho “mudar não mudando”. O problema é que, neste momento, é preciso mudar. E muito. E profundamente. Outra forma de fazer as coisas, outra maneira de se comportar, tudo novo. Será que a velha cabeça de Renato terá capacidade para promover tamanha renovação?