Uma árvore pau-brasil de 600 anos de idade foi descoberta no Sul da Bahia. Trata-se de um fato tão grandioso que o país devia parar para refletir a respeito. Os brasileiros todos elevando-se num momento de contemplação e, sobretudo, de admiração a este extraordinário ser vivo.
Porque ela, essa árvore, é uma sobrevivente, é um exemplo de força e resiliência. Imagine que, no século XVI, os índios derrubaram dois milhões de árvores pau-brasil para vendê-las aos franceses e aos portugueses. A média era de 20 mil árvores abatidas por ano, quase 50 por dia. Em seu notável livro “Náufragos, Traficantes e Degredados”, Eduardo Bueno, o “Peninha”, reproduz um trecho de um texto de Jean de Lery, que viveu no Rio de Janeiro entre 1556 e 1557.
Essa árvore é um ser vivo que representa toda uma nação.
“Quanto ao meio de carregar essa mercadoria (pau-brasil), direi que tanto por causa da dureza, e consequente dificuldade em derrubá-la, como por não existirem animais para transportá-la, é ela arrastada por meio de muitos homens; e se os estrangeiros que por aí viajam não fossem ajudados pelos selvagens, não poderiam sequer em um ano carregar um navio de tamanho médio. Os selvagens, em troca de algumas roupas, chapéus, facas e machados, cortam, serram, racham, atoram e desbastam o pau-brasil, transportando-o nos ombros nus às vezes de duas a três léguas (de 13 a 20 Km) por sítios escabrosos, até a costa junto aos navios ancorados, onde os marinheiros os recebem”.
Foi assim que o pau-brasil, árvore que deu nome a esse país continental, foi virtualmente extinto em menos de cem anos. Os europeus apreciavam tanto o pau-brasil porque dele extraíam uma tinta púrpura com a qual tingiam seus tecidos. Na época, a púrpura era a cor da realeza. Usá-la era uma distinção.
Então, os europeus chegavam à costa brasileira com seus navios e os abarrotavam de pau-brasil, levando-o aos milhares através do chamado Mar Tenebroso. Esses, aliás, foram os primeiros “brasileiros”, porque assim eram chamados os homens que trabalhavam com o pau-brasil.
Pois essa árvore do Sul da Bahia resistiu a tal chacina. E ela é majestosa: normalmente, os maiores exemplares de pau-brasil elevavam-se a 30 metros de altura; essa tem 40 metros, e seu tronco, de mais de sete metros de diâmetro, não pode ser abraçado por cinco homens que se deem as mãos.
Quero ver essa árvore. Preciso vê-la. Todos os brasileiros deveriam visitá-la. O botânico que a descobriu, Ricardo Cardim, disse que, se ela fosse encontrada em outro país, “como a Alemanha, por exemplo, certamente o governo faria um parque exclusivo para preservá-la, chamando atenção para sua história”.
É, realmente, uma vasta história. Essa árvore já tinha cem anos quando o almoxarife de Cabral, Diogo Dias, dançou com os índios nas areias de uma praia brasileira, essa árvore continuou impávida e magnífica no Brasil Império, na República, nos golpes de Estado e na redemocratização. Essa árvore é um ser vivo que representa toda uma nação. Sim, os brasileiros deveriam ir em peregrinação até o solo sagrado em que ela está plantada, como os muçulmanos vão à Meca, deveriam se ajoelhar sobre suas raízes e reverenciá-la. Os brasileiros deveriam eleger essa árvore como o símbolo do Brasil. Porque sua descoberta pode ser um prenúncio, uma alvíssara, uma esperança.