Ser ansioso é diferente de ter ansiedade. Você fica ansioso por algo que o futuro lhe reserva – algo de bom ou de ruim. Então, sente aquela expectativa, aquela agitação, às vezes uma aflição. Já a ansiedade é patológica. Li em algum lugar que é considerada “o mal do século”, embora muitos sejam os males deste século. Eu, se tivesse direito a voto para escolher o mal do século o procuraria entre as dores da alma. O corpo vai indo relativamente bem nesses tempos, apesar da covid, mas o espírito anda atormentado.
Pensei tudo isso sobre os ansiosos e os que sofrem de ansiedade por causa do Inter. A ânsia de vencer o próximo Gre-Nal é tamanha, no Beira-Rio, que, por ela, o Inter apostou a própria liderança no Campeonato. E perdeu.
Foi a ideia de preservar alguns titulares contra o Fortaleza que acarretou a derrota da noite de sábado. Uma lástima. Acidentes acontecem, num campeonato com 38 rodadas. O fracasso contra o Goiás, por exemplo, foi um desses episódios inevitáveis. Mas, se os reveses ocorrem em sequência, bem, aí temos um problema.
As duas derrotas seguidas derreteram a poupança de pontos do Inter e deram chance aos adversários, que, até então, vinham avançando com alguma insegurança.
Eis a grande novidade do estranho campeonato deste ano: nenhum time parece sólido, nenhum inspira confiança. Nesse quadro, um time ajeitado, sério e eficiente, como o Inter, pode, sim, conquistar o título. Só que os clubes gaúchos ainda não compreenderam a natureza do campeonato de pontos corridos. Eles acham que há jogos mais importantes do que outros. Não há. Jogar contra o Flamengo ou o Goiás vale a mesma coisa, os mesmos três pontos. Nesse campeonato, o vencedor sempre avança com regularidade monótona e eficaz, sempre foca numa partida só, sem pensar na seguinte, sem pensar nos concorrentes que estão atrás ou na frente. O foco tem de ser único: aquele jogo, e pronto.
Por estar ansioso, pensando no Grêmio, o Inter perdeu o foco contra o Fortaleza. Não foi uma boa estratégia. Porque, afinal, agora o Inter já não tem mais a liderança no Brasileiro. E também não tem nenhuma garantia de que, em troca do prejuízo, vencerá o Gre-Nal.