Cientistas da Universidade de Nottingham divulgaram um estudo em que estimam a existência de 36 civilizações em outros planetas da Via Láctea. Exultei com a notícia.
Em primeiro lugar, fiquei feliz porque essas civilizações estão na nossa Via Láctea e não em alguma outra galáxia qualquer. Porque as outras galáxias ficam longe. A mais próxima, Andrômeda, está a 2,5 milhões de anos-luz da rodoviária de Porto Alegre. Quer dizer: para ir até lá levaria muito tempo e você só chegaria quando estivesse bem, mas bem velhinho. Não vale a pena a viagem.
Mas essas civilizações estão por aqui, e isso é sensacional.
A propósito, sempre que penso na Via Láctea lembro de Olavo Bilac e aquela sua famosa poesia intitulada, exatamente, Via Láctea. Estudei esse poema na escola, é imenso. Mas acabo recordando apenas de uma mínima parte:
“Ora – direis – ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
Por que decorei este trecho específico? Por causa do fechamento da maravilhosa música de Belchior, Divina Comédia Humana, em que ele pega emprestado o poema de Bilac e canta:
“Ora – direis – ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso”. E eu vos direi, no entanto,
Que enquanto houver espaço, corpo, tempo
E algum modo de dizer não, eu canto.
Grande Belchior.
Mesmo assim, tenho de fazer reverência à professora Maria Antonieta, do Piratini, porque, não fosse ela me falar do poema de Bilac, eu não saberia que a música de Belchior fazia essa citação. A escola me deu a referência cultural, isso que é importante.
E quem diria que Bilac estava certo? As estrelas podem mesmo ser ouvidas. Ou, pelo menos, podem ser ouvidos os seres que habitam esses outros sistemas estelares tão longe, de nós distantes. Ou nem tão distantes assim, já que partilhamos a mesma querida Via Láctea.
Como será que eles são? Seus planetas devem ser azuis como o nosso, porque azul se torna a atmosfera que propicia a vida, formada que é por elementos químicos amigos, como o arejado oxigênio. Quanto aos seus habitantes, há várias possibilidades. Talvez os homo sapiens locais tenham sido derrotados pelos neandertais. Então, ao chegar lá vamos nos deparar com pessoas altas e loiras, maiores e mais fortes do que nós. Todas as mulheres serão com a Sharapova, com quase um metro e noventa de altura e braços capazes de dar um raquetaço que é um tiro de bazuca. Mas existe a chance de que os australopitecos tenham vencido a concorrência com os outros humanoides. Concordo que eles provavelmente não eram muito inteligentes, mas você não sabe o que pode ter ocorrido na história dos outros planetas. E se uma peste dizimou todos os sapiens e os neandertais, restando apenas os humildes pitecos para herdar o mundo?
Esse é um dos meus medos. Se algo nos acontecer, quem ficará com a Terra? Nossos leais cães? Os feios ornitorrincos? Ou os malditos insetos? Aposto nos insetos.
Mas o que me fez ficar contente, com a revelação de que pululam mais de 30 civilizações por aí, pelo espaço, é que isso significa que há para onde fugir. Na Lua não há nada além de crateras, Marte parece inóspito, bem como todos os outros planetas do nosso pequeno sistema solar, mas, se viajarmos um pouco mais, poderemos encontrar quem nos receba. Será, decerto, boa gente, vivendo num planetinha azul, com bom ar, boa água, talvez até com bom humor. Mas o importante nem é o que eles têm, e sim o que não têm: o corona. Há mundos habitáveis sem corona, essa é a grande notícia. Temos onde nos esconder.