Agora eu lavo pacote de massa, eu lavo lata de ervilha. Ontem, estava lavando o saco de arroz e pensei: antes, a gente lavava o arroz. Agora não precisa mais. Mas tem de lavar a embalagem.
Engraçado isso de não ter de lavar o arroz. Foi alguma melhoria genética? O arroz já é colhido limpo? É muita tecnologia.
Quando fiquei adolescente e começaram a me sair espinhas, a mãe veio e disse:
– Vou te dar água de arroz pra tu passar no rosto. Cura espinha.
Então, na hora do almoço ela lavava o arroz numa peneira e deixava a água escorrer para dentro de um copo. Dava-me aquele copo e eu ia para o banheiro, lavava o rosto com aquilo e ia me sentar à mesa pingando água de arroz do queixo. A minha irmã ficava rindo.
Será que curou espinha, a água de arroz? Espinha é coisa insistente, uma se vai e logo vem outra em seu lugar. Que tormento para quem quer fazer sucesso com as gurias.
Mais tarde, na faculdade, eu já não tinha mais tanta espinha e havia lá uma menina linda, linda. Uma morena. Ela era alegre como uma cabritinha e fresca como as manhãs de outono na esquina da Borges com a Demétrio Ribeiro. Nas férias de verão, nos despedimos e só fui voltar a vê-la de novo depois de dois meses. Pois ela chegou ao prédio 7, da Famecos, cheia de espinhas. Mas cheia, uma em cima da outra. Pensei que logo ela ficaria boa, mas qual o quê, as espinhas voltavam e se acumulavam naquele rosto tão bonito e ela foi ficando angustiada, foi perdendo a jovialidade e se amargurando, até que um dia tomei coragem e perguntei:
– Já usou água de arroz?
Não sei se, depois do meu conselho, ela usou. As espinhas demoraram a sumir. Meses. Anos. Espinha é assim, é coisa insistente.
O certo é que as mães têm bom remédio para todos os males.
Resfriado? Chá de limão com mel. Mas tem que tomar morno e antes de dormir. Dá um suadouro e você acorda pronto para correr a São Silvestre.
Conjuntivite? Fácil. Bote uma compressa com chá de camomila no olho.
Outro problema ocular, como o terçol, é mais simples ainda: pegue uma aliança de ouro e esfregue bem na calça de brim. Esfregue, esfregue, esfregue, até o metal esquentar. Quando estiver quente, passe em cima do terçol e repita três vezes:
"Santa Luzia passou por aqui, com seu cavalinho comendo capim".
Santa Luzia, você sabe, é a santa da visão. Suponho que ela, quando viva, se deslocava pelo mundo sobre seu cavalinho, que adorava comer capim, como em geral adoram os equinos, bovinos e ovinos. Sempre nutri grande simpatia por esse cavalinho da Santa Luzia, acho que ele é parte importante na cura do terçol.
Outra: quer branquear os dentes? Troque a pasta de dentes por um pouquinho de bicarbonato. Sei que na internet dizem que o bicarbonato cura o câncer. Não é verdade, mas que branqueia os dentes, branqueia.
Mais complexo é combater a sinusite. Você tem de pegar umas três ou quatro cebolas de tamanho médio e picar bem picadinhas e depois aquecê-las com vinagre até que fiquem translúcidas. Em seguida, tome a pasta de cebola com vinagre, enrole num pano limpo e cubra o rosto com ele, mantendo os olhos de fora. É nojento, mas a sinusite se vai em dois dias, apavorada.
Tosse? Coloque mel em uma colher grande, acrescente manteiga e leve a colher ao fogo. Assim que o mel e a manteiga se misturarem, beba o creme, mas assopre antes, para não queimar a língua. A tosse passa antes que você possa dizer Cucamonga.
As mães sabem muito. Alguma mãe ainda vai dizer o que é bom para curar corona, aguarde.