No mapa do Uber, aquele que aparece no celular, se você procurar pela Rua Gonçalo de Carvalho e for abrindo o desenho com os dedos em pinça, verá que ali está escrito:
“Rua mais bonita do mundo”.
Considero isso uma chancela oficial: a rua mais bonita do mundo fica em Porto Alegre.
Você pode achar que não, pode achar que a rua mais bonita do mundo é a Champs Élysées, de Paris, ou a Avenida Atlântica, do Rio, que são lindas mesmo, mas beleza de rua, como quase tudo em questões de estética, depende do gosto. Eu mesmo prefiro ruazinhas mais bucólicas; quanto menos carros, melhor.
Quer ver uma que me agrada mais do que a Gonçalo de Carvalho? A Dinarte Ribeiro, no Moinhos de Vento. É uma rua de se caminhar, ruas têm de ser feitas a pé, e a Dinarte é uma rua em que se caminha e se para, caminha e para, porque tem cafés e bares e restaurantes e padaria, tem o que se ver, ainda que ela seja uma rua pequena e serena como o olhar da gata mansa.
Mas a minha opinião pouco importa diante da do Uber, que conhece todas as ruas e que diz que a mais bonita delas está em de Porto Alegre, despretensiosamente estendida entre a Ramiro e a Santo Antônio.
Temos isso para nos gabar, portanto, e já é boa coisa.
Também temos o pôr do sol no Guaíba.
Vi que saiu uma pesquisa apontando que o Havaí, nos Estados Unidos, a Ilha de Santorini, na Grécia, e Kilimanjaro, na Tanzânia, são os lugares em que o pôr do sol é mais belo no planeta. Mas será que esses pesquisadores foram ver o pôr do sol sentados na grama bem em frente ao Museu Iberê, tomando um mate? Claro que não. Porto Alegre está longe demais das capitais, como diriam os Engenheiros.
Há mais qualidades que nos distinguem, como a Feira do Livro e os sábados à tarde em torno do Alim Pedro, no IAPI, essa ilha de vida suburbana cercada de Porto Alegre por todos os lados, mas não vou ficar listando nossos próprios méritos, para não parecer exibido. Teci este arrazoado por causa de uma declaração de Carlos Alberto, ex-jogador do Grêmio.
Esse Carlos Alberto, você lembrará dele, é um que pintou o cabelo de azul para agradar à torcida, mas não funcionou, porque ele não fez o principal, que é jogar bola. Tinha até suficiente habilidade, o Carlos Alberto, mas não suficiente bom senso. Assim, como diria Paulinho da Viola, ele não chegou nem a ser um rio que passou na vida do Grêmio. No máximo, foi uma poça d’água.
Pois o Carlos Alberto, dia desses, num programa de TV, foi perguntado sobre a pressão que a imprensa de Porto Alegre faz sobre clubes e jogadores. Ele respondeu que, em Porto Alegre, não existe nada além de Grêmio e Inter, o que explica a atenção exagerada dada aos clubes. Em resumo, não há praia, grandes belezas ou grande diversão que distraiam o gaúcho de seus times de futebol. É o que ele diz.
Não achei ofensiva a declaração; achei engraçada. E não de todo errada. Não que, em Porto Alegre, só existam Grêmio e Inter. Há mais. Há, inclusive, a rua mais bonita do mundo. A diferença é que Grêmio e Inter só existem em Porto Alegre. Nenhuma outra cidade tem o privilégio de sediá-los. Por isso, um evento como o desta quinta-feira, o primeiro Gre-Nal da Libertadores, é especial. Ao menos na hora do jogo, por aqui, ninguém tem medo do coronavírus, ninguém se abala com a alta do dólar, ninguém nem quer saber do que andam aprontando Lula e Bolsonaro. Porque, por aqui, é dia de Gre-Nal. E Gre-Nal é coisa só de Porto Alegre.