O podcast é um programa de rádio portátil, escrevi na última coluna, e pus-me a tecer digressão acerca da palavra “portátil”, porque gosto dela.
Quase ninguém mais fala a palavra portátil. Não surpreende, pois, basicamente, hoje tudo é portátil. Antes era indispensável explicitar que se podia portar determinado eletrodoméstico, sobretudo o rádio, que se agigantou ao diminuir de tamanho. No passado, o rádio ficava confinado em casa, encilhado a uma parede, sobre um móvel de madeira dura. Agora, o rádio, como Deus, está em toda parte. Foi isso que o radinho a pilha e os celulares fizeram com a forma do rádio. Com o conteúdo, o fez o podcast. As pessoas ouvem seus programas favoritos quando bem entendem, zanzando por aí ou no banho ou no carro.
No Rio Grande do Sul, o Potter é um dos grandes produtores de podcasts, senão o maior de todos. No seu último, do qual participei, ele pergunta se o jornalismo é salvação ou praga. Deitei falação a respeito, que o assunto me apraz. E, em meio a frases tantas, disse algo que gostaria de reproduzir aqui. Gostei da minha própria frase, confesso imodesto, e até senti certa vaidade dela. É o seguinte, vou abrir um parágrafo para destacá-la:
Não existe democracia sem imprensa livre, e não existe regime autoritário com imprensa livre.
Por imprensa, no caso, estou me referindo àquela profissional, em que veículos e jornalistas dependem da credibilidade para sobreviver. Não estou falando de órgãos acoplados a partidos, sindicatos, associações, clubes, religiões, ideologias ou quaisquer outras instituições. Estou falando da empresa e do profissional que vivem do jornalismo, que têm o jornalismo como fim, não como meio.
A dor faz parte do crescimento. Sofreremos um pouco, mas cresceremos muito.
Redes sociais, WhatsApp e seja lá o que mais surgir no meio ambiente fluido e fugidio da internet ou outros que tais são apenas ferramentas da imprensa, não seus substitutos. O jornalista pode ter seu programa no rádio, no podcast, no canal do YouTube, não importa, desde que o programa seja, de fato, jornalístico, seguindo as velhas, certeiras e bem conhecidas diretrizes da profissão.
Jornalismo, justiça e democracia se misturam, só vicejam juntos, e um depende do outro. No Brasil, as pessoas estão um pouco confusas a respeito de como devem se relacionar com essas instituições, porque o país está em pleno processo de transformação, como se passasse pela adolescência. Tudo bem, a dor faz parte do crescimento. Sofreremos um pouco, mas cresceremos muito. E seguiremos em frente.