Meu novo café preferido de todos os tempos e lugares do mundo fica aqui perto de casa, a oito minutos de caminhada de mão no bolso. Chama-se Allium e serve umas comidinhas supimpas.
Ali tem também diversos tipos de produtos importados, tudo muito bom. Sábado, sabe o que é que vou fazer no sábado? Vou ao Allium e vou comprar patê de pato de Lion, presunto de Málaga, uma geleia de pimenta egressa de uma das fazendinhas da New England, queijos variados e também uma baguete que eles mesmos fazem. Vou, em seguida, passar na loja de bebidas e pegar um vinho da Califórnia de que gosto bastante, um Merlot 181, e depois vou para casa e vou pôr um bom filme na TV, de preferência um filme de detetive, e chamar a Marcinha e o Bernardo para nos regalarmos com os acepipes que prepararei com minhas próprias mãos.
Outro dia, fui almoçar no Allium com a Marcinha. Pedi uma muffuletta e ela um sanduíche de salmão. Nos acomodamos em uma mesa pequena, eu com uma caneca de chá preto inglês, ela com um café preto. Aí entrou uma moça empurrando um carrinho de nenê. Era jovem, vinte e poucos anos, calculei. Era magra e usava óculos. Passou com o carrinho e olhei para o nenê – um menino bem novinho, devia ter semanas de vida.
A moça foi ao balcão e de lá retornou com um alentado sanduíche de atum com salada. Sentou-se a uma mesa próxima à nossa. E começou a comer. Empunhava o sanduíche com as duas mãos, dava uma mordida e, enquanto mastigava, olhava para dentro do berço. Ela não tirava os olhos do nenê. Às vezes, sorria, satisfeita. Noutras, aproximava o rosto do menino, como se tivesse notado algo que não vira antes. Ela olhava e olhava e não se cansava de olhar. Era bonito vê-la olhando para o filho.
Que ele não a decepcione, roguei, em silêncio. Que ele cresça com muita saúde e alguma sabedoria.
A devoção, a paixão, a angústia de toda mãe estavam resumidas naquela cena. Se Michelângelo vivesse no século 21, poderia fazer daquela moça no café a sua nova Pietà. Ela despejava amor sobre o menino no berço com aquele olhar tão intenso, tão completamente absorto, tão íntegro e inteiro. Não havia nada mais no mundo para ela. E, certamente, também não havia para ele. Nada podia ser maior, nem mais importante.
Então, pensei no filho. Como ele será no futuro?, me perguntei. Será que se tornará um bom menino? Um adulto decente? Uma pessoa que fará o bem para outras pessoas? Será ele motivo de orgulho para sua mãe? Torci que sim.
Que ele não a decepcione, roguei, em silêncio. Que ele cresça com muita saúde e alguma sabedoria. Que faça coisas boas para aquela que, mais tarde, talvez chame de sua velha. Que mereça todo aquele amor que, numa tarde de fim de outono, se derramou sobre ele em Brookline. Como uma bênção.