Fiz um esforço, tentei pensar como um lulista. Refiro-me às acusações de corrupção que existem contra o ex-presidente. Queria descobrir se, usando da maior boa vontade possível, conseguiria absolvê-lo do que pesa contra ele. Então, por princípio, tomei como verdade absoluta tudo o que Lula e seus advogados de defesa alegam. Tudo.
Acatei cada argumento, por menos plausível que parecesse. Acreditei que Lula não sabia de nada do que foi feito nos governos do PT, que ele foi traído por companheiros e perseguido por inimigos. Engoli o que pude. Mas houve algo que não me passou na garganta: o caso do sítio de Atibaia, pelo qual ele foi condenado em segunda instância pelo TRF-4, nesta quarta-feira (27).
Defender Lula, neste caso, é uma agressão à lógica.
Explico: é certo e comprovado que Lula frequentava muito o sítio. Seguranças do Palácio do Planalto receberam quase mil diárias para fazer vigilância em Atibaia, mostrando que, em três anos, Lula esteve no local pelo menos 111 vezes, ficando lá 283 dias.
Ou seja: eu, como suposto lulista, até posso crer que o sítio não lhe pertencia, mas sou forçado a admitir que ele era assíduo do lugar, quase como se fosse um proprietário.
Também tenho de reconhecer que três empreiteiras fizeram grandes reformas no sítio, num valor de mais de R$ 1 milhão. E que ninguém pagou por esse trabalho.
Sendo assim, tortura-me a pergunta dura de pedra: “Por quê?”
Por que três empreiteiras fariam uma reforma de tamanho vulto, de graça, em um sítio frequentado por um presidente da República? Por quê? POR QUÊ?
Construtoras não trabalham sem cobrar. Se fazem uma reforma, querem receber algo em troca. O que elas receberam em troca?
Mesmo o lulista mais devoto terá de ver que há algo errado, neste caso do Sítio de Atibaia.
É óbvio que Lula recebeu favores dos empreiteiros, e isso não aconteceu porque todos torcem pelo Corinthians. Isso aconteceu porque ele foi presidente da República. E porque, como presidente da República, favoreceu os empreiteiros. Não há outro nome para dar a esse processo: é corrupção.
Há quem suspeite da lisura dos julgamentos de Lula devido à revelação da troca de mensagens entre o Ministério Público e o então juiz Sergio Moro. Milhares de mensagens foram publicadas, demonstrando que houve comunicação entre juiz e promotores. Mas nenhuma demonstra que algum inocente foi condenado. Nenhuma. Não há fabricação de provas, não há invenção de depoimentos. De certa forma, é um atestado de correção da Lava-Jato.
A condenação de Lula, portanto, é justa. Seria impossível que o TRF4 não o condenasse. Até o lulista mais dedicado é capaz de ver.