Vinícius é um rapaz que tem síndrome de Down. Nesta segunda-feira nós o entrevistamos no Timeline, da Gaúcha, a propósito de um programa educativo do qual participou, espécie de Big Brother de pessoas com Down, 20 delas reunidas em uma casa por quatro dias. Fez-lhe muito bem. Tanto que, agora, o Vinícius mora sozinho e paga suas contas, como fez questão de ressaltar algumas vezes, enquanto falávamos com ele. Quando perguntei o que havia aprendido de mais importante no programa, ele pronunciou uma frase que não é original, mas tem forte significado:
– Regras são regras.
Esse lema talvez pudesse definir filosoficamente o país em que ora vivo, os Estados Unidos. Os americanos são ensinados a cumprir regras. Eles compreendem que só assim a sociedade pode funcionar bem.
Fui ver um dos filmes do Homem-Aranha com meu filho, tempos atrás. Em meio à trama, o Homem-Aranha pede que o seu melhor amigo, um gordinho engraçado, faça algo importante e inusitado para ajudá-lo a salvar Nova York de um vilão poderoso. O amigo hesita:
– Mas e se isso for ilegal?
Milhões de pessoas podem morrer, se ele não fizer o que o Homem-Aranha quer, mas, em sua cabeça há um grilo falante que repete: se a lei proibir, não pode ser feito.
Um brasileiro, com a provável exceção do Vinícius, não seria atormentado por esse questionamento. Ele faria e pronto, sem nenhum drama de consciência.
Isso significa que o brasileiro não respeita a lei?
Isso significa que o brasileiro não respeita a lei? A resposta é: sim. Significa. Mas a culpa não é do brasileiro. A culpa é da lei.
A resposta é: sim. Significa. Mas a culpa não é do brasileiro. A culpa é da lei.
Nossas leis são voláteis. Às vezes, algo pode; noutras, não pode. Um exemplo prosaico: no Brasil, um menor de 18 anos, para viajar sozinho ou só com um dos pais, podia fazê-lo apenas com autorização da Justiça. Depois mudou e os pais poderiam dar essa permissão no passaporte do filho. Mais tarde, a mudança mudou e a permissão no passaporte não era suficiente. E houve oportunidades em que eu e minha mulher JUNTOS só pudemos viajar com nosso próprio filho apresentando o passaporte e a certidão de nascimento dele.
É assim em todas as áreas, da possibilidade de prisão em segunda instância à instalação de casinhas de cachorro nas calçadas.
A pergunta que nos resta é: por que, meu Deus? Por que somos assim?
É que não sabemos o que é certo e o que é errado.
Isso é grave. Mais grave do que você pensa, porque nos impede de avançar.
Pense no seu filho, se você tem um. O seu filho não é “seu”, no sentido de ser uma propriedade. Você não pode dispor dele como quiser. Ao contrário: você tem obrigações com ele. Você tem de alimentá-lo e protegê-lo. Mas isso não basta para fazer de você um bom pai. Porque, para se tornar um bom pai, o mais importante é ensinar ao seu filho o que é certo e o que é errado. É assim que você formará o caráter do seu filho. E é assim que ele vai lembrar de você como um modelo, como uma referência. Seguirei neste tema, mas, antes, digo que, se você fizer isso, se ensinar ao seu filho o certo e o errado, você resolverá um problema existencial: você vencerá a morte.
Com essa sentença impactante, só posso finalizar como o velho Sérgio Jockymann fazia: “Pensem nisso, enquanto lhes digo… até amanhã”.