Sandra Santos, viúva do policial Edler dos Santos, morto em ação em Montenegro, enviou-me um texto que gostaria que todos lessem.
Nasceu herói, nosso herói. Morreu herói, herói de um Estado
Edler Gomes dos Santos nasceu em 25 de janeiro de 1965. Cresceu amoroso, justo e sonhador. Introspectivo, ao mesmo tempo que alegre e determinado. Um sábio amigo, um aluno exemplar, um atleta dedicado, um chefe escoteiro determinado. Um herói para seus escoteiros.
Em São Borja ajudou a organizar e fundar a 1ª Cia de Engenharia (de Combate Mecanizada do Exército). Soube ser um tenente R2 digno de elogios e reconhecimentos. Um herói para seus soldados.
Com 17 anos começou a namorar e construir sua família. Hoje tem esposa, duas filhas, dois genros e um neto amado, que vai nascer em dezembro. Um herói para seus pais, irmãos, amigos, parentes e para "sua família de seis, agora sete".
Em 2010, tornou-se escrivão da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul. Inspirado em sua vocação e no exemplo do irmão, delegado Regis Gomes dos Santos, soube ser exemplo de servidor, policial, colega e amigo. Um herói para quem com ele conviveu nesses poucos quase 9 anos.
Às 3h30 da manhã de 16 de julho de 2019, saiu de casa, e foi cumprir o que para ele seria apenas mais uma operação da sua carreira policial. Porém, foi sua última tarefa nessa vida. Nunca mais vai voltar para seu bairro, para sua rua, para sua casa, para sua família e amigos. Nunca mais fará seus passeios de moto, não vai concluir os projetos com seu trailer e não irá mais nos treinos do Shorinji Kempo.
Ele não foi um herói porque morreu. Ele nasceu e viveu como herói. E heróis são todos esses policiais que cuidam de nós todos os dias. Mas eles precisam de quem cuide deles. Precisamos dos nossos heróis dignamente vivos. Eles precisam voltar para suas casas e suas famílias. Quem cuida de quem cuida de todos nós?
SANDRA SANTOS
viúva do policial Edler dos Santos
Essas poucas linhas resumem uma vida e pode-se pensar: o que há de heroico nisso? Não há como listar aqui, por falta de tempo e espaço, tudo o que ele fez para ser o herói de cada um que conviveu com ele. Fica na memória e no coração de cada pessoa a lembrança de um gesto amigo, amoroso, solidário e abnegado. Feliz de quem conviveu com ele. Nasceu amoroso, justo, sonhador, e soube transpor isso para suas palavras, gestos e ações, em todos os dias da sua vida. No seu velório havia amigos de infância, havia seus ex-escoteiros, colegas de Exército e colegas da polícia, além de amigos e familiares. Mas havia um clima diferente. Havia autoridades de diferentes instâncias públicas e privadas. Havia sirenes, buzinas, palmas e quase duas mil pessoas, consternadas com a despedida. Ouvia-se repetidas vezes: "Ele foi um herói".
Mas não era compreensível isso, sendo dito por tantas pessoas. Somente depois do sepultamento foi possível começar a entender que aquele marido amado, aquele pai e sogro adorado, NOSSO HERÓI, havia morrido como um herói para muitas outras pessoas. Ouviu-se uma infinidade de elogios e agradecimentos. Entre eles: "Todas as pessoas vão morrer, mas poucos com tanta honra"; "teu pai agora não é só teu herói, é o herói de um Estado". Essas palavras somaram-se às reportagens e notícias que só acessamos após o sepultamento. A dor da perda não nos permitia ter a dimensão do reconhecimento que ele havia conquistado com sua morte. Por isso, quando o governador Eduardo Leite, ao cumprimentar gentilmente a família, disse: "Ele foi um herói e vai fazer falta", pode ouvir a seguinte resposta: "Ele não foi um herói porque morreu. Ele nasceu e viveu como herói. E heróis são todos esses policiais que cuidam de nós todos os dias. Mas eles precisam de quem cuide deles. Precisamos dos nossos heróis dignamente vivos. Eles precisam voltar para suas casas e suas famílias. Quem cuida de quem cuida de todos nós?".
Edler, o meu herói, o herói das nossas filhas, dos nossos genros e de todos que o amaram, deixa saudades, um amor infinito e lindas lembranças. Porém, deixa também um sentimento de indignação profunda, que nos faz clamar e que esse grito da alma não silencie, que ele se amplie em cada sirene que se ouvir de agora em diante, porque "ele não foi o único policial morto em serviço, não foi o primeiro, mas que haja reais condições para que não seja apenas mais um nessa semana, nesse mês, nesse ano... Afinal, quem cuida de quem cuida de todos nós?"