Dei-me o trabalho de ler a alentada entrevista que Lula concedeu na cadeia. É óbvio que quem odeia Lula vai criticar o que ele disse e quem ama vai elogiar. Não me enquadro em nenhuma das duas categorias. Consigo ver méritos e deméritos em Lula. Ainda escreverei mais a respeito, Lula é ótimo personagem, mas, por ora, quero me concentrar na entrevista.
Em primeiro lugar, fica cristalino que a cadeia não mudou Lula em nada. Nem para melhor, nem para pior. Ele está exatamente igual. Isso pode ser bom, porque demonstra que o revés não o abateu. Mas pode ser ruim, por demonstrar que o revés não serviu de aprendizado.
Quando os repórteres perguntam se Lula reconhece ter cometido algum erro em sua trajetória, a resposta dele tem o poder de deixar o leitor atônito. Primeiro, quanto ao caso do sítio reformado pelas empreiteiras, ele declara o seguinte:
— Eu cometi o erro de ter ido no sítio. Então, se eu cometi o erro de ir num sítio em que alguém pediu e a Odebrecht reformou, vamos discutir a questão ética. Aí é outra questão.
Explicando: havia um sítio em que Lula sempre ia. Sempre. Este sítio foi reformado, de graça, por três empreiteiras. As obras saíram mais de R$ 1 milhão. E Lula acha que isso não é nada mais do que uma "questão ética".
A segunda autocrítica que ele faz é ainda mais espantosa. A seguinte:
— Eu, por exemplo, tive um erro grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação.
Sério! Lula pensa que o erro dele foi não censurar a imprensa!
Lula acerta, na entrevista, na crítica que tece a Bolsonaro. Neste caso, sua análise é percuciente:
— Não sei como você é deputado 27 anos e diz que não gosta de política. Como você faz um filho vereador, outro deputado federal, outro senador, e você não gosta de política? Então, ele vai ter que ter muita capacidade de articulação, muita vontade, vai ter que gostar muito de política para poder dar certo. Porque a chance de ele dar certo é o Brasil dar certo. O povo tem paciência, mas não tem toda a paciência do mundo.
Perfeito. Preciso. De política, não há dúvida, Lula entende.