Todo homem que um dia se dedicou às mulheres está acostumado com a rejeição.
O que significa “dedicar-se às mulheres”?
Bem, eu e meus velhos amigos do IAPI crescemos encantados por elas. E, quando digo “encantados”, é encantamento mesmo. As mulheres, para nós, eram seres misteriosos e, sem dúvida alguma, superiores. Claro, naquela época não existiam redes sociais, ninguém se expunha. Você precisa ouvir alguém falando para se desiludir.
Um homem que nunca foi rejeitado é um homem incompleto.
Então, nós as desejávamos em silêncio, sabendo que a decisão não era nossa; elas é que escolhiam. Nós esperávamos. Se déssemos sorte, aquela morena de pernas de seda repararia em nós e emitiria uma breve risada a uma gracinha que disséssemos. Ah, sim, o riso de uma mulher abre uma fresta no seu coração, disso nós sabíamos.
Havia chance de que tudo desse certo, portanto. Quem sabe, até engatava um namoro. Mais tarde, porém, podia acontecer de o olhar dela ficar embaçado quando você dizia outra gracinha e aí, inevitavelmente, por algum motivo insondável, chegaria o dia em que ela anunciaria:
– Não quero mais.
É um momento dramático. Você tenta, você implora, você rasteja feito um verme, você se arrisca a fazer poesia, só que não adianta mais. A mulher, quando decide desistir, não volta atrás.
Esse sofrimento pelo qual você passa é muito didático, exatamente porque você aprende a ser rejeitado, e o mundo está sempre nos rejeitando. Assim, da próxima vez que você for dispensado, esquecido, chutado ou desprezado, você poderá até se entristecer por algum tempo, mas saberá que conseguirá superar a dor, que irá em frente e que ali adiante novas oportunidades surgirão. É possível, inclusive, que, no futuro não muito distante, você olhe para a sua ex e se pergunte:
– Mas como é que eu pude sofrer por essa mala?
Essa é a atitude certa.
A rejeição tem de ser usada a seu favor. Você vai se entender melhor e melhor entenderá o mundo. Os americanos dizem: “No pain, no gain”. E é isso mesmo: sem dor, não há ganho. Sinta a dor. E aprenda.
Alguns homens, no entanto, são orgulhosos. Por não compreenderem o valor da rejeição, não compreendem que eles não têm controle nem sobre suas próprias vidas, quanto mais pela vida dos outros. São esses seres inferiores que saem por aí matando as mulheres que os rejeitaram.
Um homem que nunca foi rejeitado é um homem incompleto. É um homem que nunca esfolou o joelho jogando bola, que nunca caiu de bicicleta, que nunca foi barrado na entrada, que nunca se dedicou às mulheres.
Quando eu era guri, os mais velhos diziam que servir ao Exército fazia muito bem ao jovem. Porque ele aprendia a obedecer, aprendia a se conformar, aprendia que a humilde aceitação é a maior força de que um homem pode dispor no enfrentamento da vida. Uma boa rejeição faz o serviço de um ano de quartel. Não se envergonhe da rejeição. Não se envergonhe de ouvir não. Quem está vivo está sempre ouvindo não.