Imagino que, ontem à noite, você foi dormir ansioso, pensando: “Finalmente, saberei qual foi O Melhor Bar da História de Porto Alegre”.
De fato, estava pronto a discorrer sobre um desses grandes bares, o Encouraçado Butikin, quando fui atropelado por duas ocorrências que urgem: a vitória espetacular do Grêmio e a entrevista de Bolsonaro ao Jornal Nacional.
Assim, espere um pouco mais, aflito leitor. Deixe-me falar, em primeiro lugar, acerca do primeiro assunto: o Grêmio, na terça-feira, foi o defunto abrindo os olhos no velório. Eu estava na Arena, e vi: aos 47 minutos do segundo tempo, o Grêmio já estava com o corpo encomendado. O ano acabaria em melancolia, jogadores importantes seriam banidos do clube como Adão e Eva do Paraíso, Renato colocaria o Sundown na mala a fim de voltar para Ipanema. O gol de Alisson mudou tudo. Não foi um alento; foi uma ressurreição, porque, além da vitória, o gol deu confiança para que todos os pênaltis fossem convertidos.
A massa não se comove com o combate aos preconceitos, nem aqui nem em lugar algum.
Agora, o Grêmio precisa aproveitar o tempo que lhe foi concedido para corrigir seus defeitos, que não são poucos. Alguns:
1. Geromel tem de parar de pensar que está jogando na Seleção. Se ele continuar pensando na Seleção, será um zagueiro comum; se esquecer da Seleção, será um zagueiro de Seleção. Aliás, o melhor que há.
2. Ramiro, ou sai de campo estafado, ou não entra em campo. Talvez ele esteja precisando de um descanso.
3. É preciso encontrar soluções melhores para as laterais.
4. As posições de volante e de centroavante ainda estão em aberto.
5. Alguém tem de descobrir o que está acontecendo com Luan.
Se resolver algumas dessas pendências, o Grêmio, que abriu os olhos já dentro do caixão, não será um ressuscitado qualquer: será o Conde Drácula.
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Chegamos à segunda ocorrência da terça à noite: Bolsonaro no JN. Mais uma vez, os jornalistas se equivocaram na condução da entrevista e Bolsonaro se saiu bem, porque, como o Estudiantes, jogou o tempo inteiro no contra-ataque.
Bonner até que se conteve, mas a bela Renata Vasconcellos parecia a ponto de pular da mesa para estapeá-lo. Não é uma postura inteligente do entrevistador que pretende expor as fraquezas do entrevistado.
Além disso, a escolha dos temas ajuda Bolsonaro. Os jornalistas, praticamente todos os que o entrevistam, insistem na pauta dos costumes, como questões envolvendo mulheres e gays. É óbvio que o combate à discriminação é importante, mas não é neste setor que se espera a atuação mais forte do presidente da República. O Brasil é um país com 14 milhões de desempregados, com graves problemas de saúde, educação e segurança pública, com a máquina estatal emperrada pela ação das corporações e pela legislação atrasada e burocrática. É aí que pulsa o pulso da população. A preocupação com o politicamente correto é uma absoluta exclusividade de intelectuais e artistas, classes que são tradicionalmente desconectadas da realidade do homem comum.
A massa não se comove com o combate aos preconceitos, nem aqui nem em lugar algum. Vide os Estados Unidos. Trump não venceu a eleição apesar de ser politicamente incorreto; Trump venceu também por ser politicamente incorreto. Quer exemplo de um político mais próximo? Lula, com suas brincadeiras grosseiras a respeito de mulheres e homossexuais, está a um oceano de ser politicamente correto, ainda que esteja sempre sob a vigilância dos intelectuais do PT. E Lula foi eleito duas vezes presidente da República.
O presidente trai a mulher com a secretária? O presidente é gay? O presidente sofre de priapismo? Pouco importa, desde que o eleitor tenha trabalho e possa levar seu filho ao jogo de domingo sem medo de ser assaltado. O eleitor é egoísta. Ele quer alguém que o ajude a resolver a vida dele. Se for um candidato bonzinho, tudo bem. Se for um malvado, que passe por cima da ética para alcançar resultado, talvez seja ainda melhor.