Há uma abundância de vídeos de brasileiros se comportando pessimamente na Copa da Rússia, alguns mais agressivos, outros menos, todos vexatórios.
Ouvi alguém questionar: por que isso agora?
Respondo: isso não é de agora. Isso sempre foi assim.
O que existe de diferente, agora, é um ferrinho de cinco polegadas de altura: o telefone celular. Cada ser humano, hoje, é uma pequena emissora de TV. Tudo o que é visto pode ser gravado e publicado.
Se o comportamento dos brasileiros tivesse sido registrado antes e em outros lugares, inclusive no Brasil, seriam conhecidas cenas identicamente estarrecedoras. O brasileiro carece de educação, e não me refiro à educação formal – quem veio à Rússia para assistir à Copa decerto estudou em boas escolas. O problema está na família.
Brasileiros pobres, ricos e remediados são mal-educados porque suas famílias e seu país os ensinam a não temer as consequências dos seus atos
Brasileiros pobres, ricos e remediados são mal-educados porque suas famílias e seu país os ensinam a não temer as consequências dos seus atos. No Brasil, crianças, adultos e até instituições são tratados da mesma forma – como se não tivessem responsabilidade pelo que fazem.
Todos sofrem em um país com essa cultura, mas quem sofre mais é quem pode menos. Os mais fracos. Mulheres, negros, homossexuais e crianças sempre estiveram mais expostos à violência no Brasil. Como o Estado nunca teve capacidade efetiva de defendê-los, a sociedade tomou a peito a tarefa. E está podendo cumpri-la graças à revolução digital e à liberdade de mercado.
É verdade que às vezes há excessos na punição, mas isso também faz parte dessa evolução dialética – vai-se de um extremo a outro até se chegar ao meio-termo. O importante é que a sociedade está demonstrando repúdio à impunidade histórica do país. E que o Brasil está mudando de dentro para fora. E de baixo para cima.
Cartas ao Federico emocionam Tite
Alguns dos textos mais bonitos desta Copa têm sido escritos pelo meu irmãozinho Potter em suas cartas ao Federico, publicadas dia sim, dia não, em Zero Hora.
Houve um que ele escreveu sobre o Tite que ficou especialmente tocante. Tanto, que tocou… o Tite! Homem sensível que é, ele enviou por WhatsApp uma mensagem ao Potter, agradecendo pela coluna. Nota-se que se emocionou. Eu também. Mal posso esperar para ver a reação do Federico, assim que ele adquirir o bom hábito de ler jornal.
Um lugar esquisito em São Petersburgo
Estive em um lugar muito curioso, ontem, aqui em São Petersburgo. Ou talvez seja mais do que curioso: talvez seja esquisito. Chama-se Kunstkamera, que seria algo como "sala de raridades". Na verdade, é quase um museu dos horrores.
Esse Kunstkamera foi o primeiro museu erguido em São Petersburgo, o que foi feito por ordem do próprio czar que deu nome à cidade. Pedro, o Grande, decidiu construir um museu que obedecesse ao seguinte critério para formar sua coleção: "Tudo o que tiver capacidade de surpreender o imperador".
Em seus primeiros anos, o Kunstkamera tinha até pessoas vivas como atração. Estavam à mostra gigantes, anões e homens, mulheres e crianças com alguma deformidade física. Essas pessoas ganhavam salário do museu para ficar expostas. Depois que morreram, continuaram trabalhando: seus esqueletos ainda estão lá, inclusive o de um homem de 2m27cm de altura, maior do que todos os grandalhões da NBA, e o de uma criança com duas cabeças. Há também uma série de fetos deformados, preservados em formol. As crianças adoram essa seção. Vi grupos de meninas e meninos pequenos que não paravam de rir e fazer piadas em russo diante dos vidros com aqueles cadáveres em conserva. Tétrico.
Hoje, o Kunstkamera foi promovido a Museu de Antropologia e Etnografia Pedro o Grande e, além dessas bizarrices, conta com uma coleção bastante interessante de objetos de povos nativos da América, da África e da Ásia. Vale a visita. Se você não for muito sensível.