Subimos para São Petersburgo, no extremo norte do mundo. Gostei da estada em Rostov-on-Don, porque pude conhecer uma Rússia que não está nos guias turísticos.
Rostov é uma cidade do interior, russa de raiz. Pode-se dizer que é uma Porto Alegre da Rússia — também fica no Sul, longe demais das capitais, e possui o mesmo tamanho e a mesma população, com pequenas variações.
Como Porto Alegre, Rostov se espalha à beira de um rio e tem alguma riqueza no centro e muita pobreza na periferia. As árvores não são altas como os carvalhos da Nova Inglaterra, mas são abundantes. E o mais surpreendente: há inúmeras casas de construção em estilo açoriano, com a porta da rua dando para a calçada.
Pulsa, no entanto, uma diferença contundente a favor de Rostov: na Porto Alegre da Rússia, as pessoas sentem-se seguras. Você vê casais, adultos, velhos e crianças andando por toda parte, a qualquer hora, sem medo. Você vê mulheres sozinhas passeando à noite em alamedas escuras, sob as sombras das árvores, sobre o chão batido das ruas pobres. Algumas falam ao celular, outras puxam cachorrinhos pela coleira e há as que param para descansar nos bancos das praças.
Há pobreza em Rostov. Mas há segurança em Rostov. Como deve ser em qualquer lugar civilizado do mundo.
Sempre digo que, se houvesse segurança pública, 70% dos problemas do Brasil seriam resolvidos. Com segurança, a cidade é do cidadão. Ele pode se movimentar livremente e pode dormir tranquilo, ele não se aflige quando seus filhos estão na rua nem tem de transformar sua casa em um bunker ou pagar para estacionar seu carro. Garantir a segurança é a maior obrigação do Estado.
Estando aqui, em um país que tem certas semelhanças com o Brasil, tendo passado por uma cidade tão parecida com Porto Alegre, penso que não sou tão exigente, afinal. Porque nem quero que a minha cidade seja Paris, Nova York, Londres ou Berlim. Não precisa. Se Porto Alegre fosse Rostov, já estaria satisfeito.
O AVÔ DO GOOGLE
O avô do Google foi o filósofo francês Denis Diderot. Foi ele quem, no século 18, concebeu a Enciclopédia, que tinha, precisamente, a pretensão de reunir todo o conhecimento da Humanidade organizado em verbetes. Diderot levou 21 anos para concluir o projeto. Um trabalhão, mas ele ganhou a admiração dos seus conterrâneos e da posteridade.
Uma das pessoas que mais o admiravam era Catarina II, a Grande, imperatriz do Todas as Rússias, uma mulher que amava como poucas os prazeres da carne e do intelecto. Catarina gostava tanto de Diderot, que, quando ele começou a enfrentar dificuldades financeiras, ela interveio soberanamente: comprou a biblioteca do filósofo por uma pequena fortuna e garantiu a tranquilidade de seu futuro. Mas a generosidade de Catarina não parou por aí. Para que Diderot não ficasse sem seus preciosos livros, que lhe cevavam a filosofia, permitiu que ele continuasse de posse da biblioteca até morrer. Depois, então, os livros seriam transferidos para o Museu do Hermitage, em São Petersburgo, onde hoje repousam.
Nos próximos dias, pretendo fazer uma visita a essa biblioteca. Quero me deter diante dos livros do velho filósofo e, talvez, sussurrar uma saudação a Catarina, uma governante que compreendia o valor da cultura.
O MELHOR ATÉ AGORA
O Duda Garbi há tempos vinha me falando dessa seleção da Bélgica. Que os caras são muito bons e que podem fazer história nessa Copa e tudo mais. Não dei grande atenção a ele, mas, na segunda-feira, finalmente, vi os belgas em ação, quando venceram o Panamá por 3 a 0.
Bem, aparentemente, o Duda está certo. Até agora, a seleção da Bélgica foi o time que mostrou o melhor futebol na Copa da Rússia. Jogou um jogo leve, fluido, cheio de alternativas e até com algumas jogadas ensaiadas surpreendentemente novas. Claro, o Panamá não é exatamente a Seleção de 70, mas a Bélgica fez o que tinha de fazer, enquanto papões como o Brasil, a Alemanha e a Argentina, não.
Cuidado com os belgas.