Tem uma estação espacial chinesa caindo velozmente bem na nossa direção, lá do espaço, neste momento. Oito mil e quinhentos quilos de metal duro se aproximando em queda livre. Os chineses perderam o controle desta joça e aí pelo dia 25 ela vai colidir com a Terra. Onde, exatamente, ninguém sabe, porque a estação vem girando enquanto viaja, mas ontem vi um mapa que mostra as faixas do Globo com maiores chances de serem atingidas, e adivinhe: a região em que moro, norte dos Estados Unidos, está entre as de maior risco.
Não quero que uma estação espacial chinesa de oito mil e quinhentos quilos caia na minha cabeça, mas o que é que posso fazer a respeito? A Marcinha sugeriu que passemos o dia 25 em alguma área com menores possibilidades de ser alvo da geringonça. Não achei boa ideia. Vá que a coisa desvie um pouco para o lado e acerte, ironicamente, o lugar para onde a gente fugiu. Seria ridículo. Melhor relaxar e esperar.
Que ideia foi essa de colocar lá no céu um troço que inevitavelmente irá despencar? Já não temos problemas suficientes aqui embaixo? As guerras. A fome. A intolerância. O Grêmio sem centroavante. Não basta isso? Não: há um monte de lixo espacial orbitando em volta da Terra, como pequenas luas de aço, todas sentindo irresistível atração pela gravidade. Em algum momento, elas entrarão na nossa querida atmosfera.
Você não se preocupa com nada disso, claro, porque está assoberbado pelas quizílias mundanas, porque se ocupa de discussões pelo WhatsApp, cogita se Lula vai ser ou não preso, se Bolsonaro vai continuar crescendo perigosamente nas pesquisas, se o olhar que aquela morena lhe deu durante o almoço significa algo.
Bem, você está errado. Vou lhe dizer o tamanho dessas coisas que fervilham em sua mente, e vou fazer isso olhando para o firmamento. Mais especificamente para o Sol. Ele, o Rei Sol, é tudo para nós, não é?
É.
Ocorre que o Sol é apenas uma de cem bilhões de estrelas que cintilam na nossa galáxia, a bela Via Láctea, assim chamada porque, vista a distância, parece com leite derramado.
Uma entre cem bilhões, e essa é uma estimativa modesta. Há cientistas que dizem que pode ser bem mais. Sabe o que são cem bilhões? É o seguinte: 100.000.000.000.
Você certamente achou um número assustador. Pois só achou porque não lembrou que a nossa amada Via Láctea é apenas uma entre outras cem bilhões de galáxias do universo, cada uma com seus cem ou duzentos bilhões de sóis, ou até mais. Logo, o número de estrelas no universo é algo como:
10.000.000.000.000.000.000.000.
Dez sextilhões.
Se contar rápido, mais de um número por segundo, você levará uns 500 anos para ir do zero aos dez sextilhões. Seria uma existência monótona.
Agora raciocine: se o número de estrelas é tão elevado, imagine o de planetas. Ou melhor: não imagine, porque é inimaginável.
Significa que, com tantos sóis e planetas, é, mais do que improvável, impossível que não exista vida em outros lugares, além da Terra. A lógica indica solidamente que há milhões de planetas habitados por trilhões de outros seres.
Em resumo, você e eu somos insignificantes. Os sete bilhões de terráqueos vivos são insignificantes. Até a Megan Fox é insignificante.
Há muito mais estrelas e mundos e pessoas no universo, embora eu duvide que haja um zagueiro como Pedro Geromel.
Fique tranquilo, portanto. Fique em paz. Não vai adiantar se preocupar com o que quer que seja. Viva a sua minúscula vida com leveza. Resta, apenas, torcer para que uma maldita estação espacial chinesa não caia sobre a nossa cabeça.