O Real Madrid foi eloquente ao vencer de virada o Al Jazira e se classificar para disputar com o Grêmio a final do Mundial Interclubes, nesta quarta-feira, em Abu Dhabi. Eloquente porque, mais do que mostrar, o time de Zidane contou sobre seus muitíssimos méritos e poucos defeitos, neste 2 a 1 no clube anfitrião do torneio.
Em primeiro lugar, o Real deixou claro que joga para amassar o adversário sem quaisquer ponderações. Em oito minutos já somava seis conclusões a gol. E elas continuaram se sucedendo durante todo o jogo. Chutes de fora e de dentro da área, cabeçadas, cruzamentos por cima e por baixo. Só Benzema acertou na trave duas vezes.
O Real não marcou no primeiro tempo porque o goleiro do Al Jazira, Ali Khaseif, estava vivendo uma noite iluminada. Tanto que, apesar de o Real ter vencido, ele não tomou gol — saiu de campo lesionado, no segundo tempo.
O Al Jazira optou pela estratégia mais óbvia que pode empregar um time inferior ao seu oponente: construiu uma linha de quatro jogadores de defesa na frente da área, diante deles postou mais três e deixou dois para o contra-ataque.
Se você for olhar apenas o histórico dos gols, achará que a ideia funcionou parcialmente, porque, aos 41 minutos, o brasileiro Romarinho recebeu a bola dentro da área, chutou rasteiro, cruzado, e marcou 1 a 0 para o Al Jazira. E mais: logo no primeiro minuto do segundo tempo, o mesmo Romarinho recuperou a bola no seu campo de defesa e lançou para seus companheiros de frente.
O Real estava inteiro no ataque e foi pego de surpresa. A bola caiu nos pés do rápido Mabkhout, que voou para dentro da área, acossado por um zagueiro já batido e acompanhado pelo seu colega Boussoufa.
Quando o goleiro saiu para fechar o ângulo, Mabkhout poderia ter finalizado para o gol. Mas ele hesitou. Perdeu a passada. Teve medo de ser feliz. Livrou-se da responsabilidade e passou para Boussoufa, que corria um passo à sua frente. Por este único passo, Boussoufa estava impedido, e o gol foi anulado pelo juiz brasileiro Sandro Meira Ricci, com ajuda do árbitro de vídeo.
Neste momento, como que terminou a sorte do Al Jazira. Três minutos depois, o goleirão Ali Khaseif pediu para sair, por lesão. Passaram-se mais cinco minutos e o bonitão almofadinha Cristiano Ronaldo recebeu a bola sem marcação, dentro da área. Ele não vacilou: 1 a 1.
O jogador que deu o passe para o bonitão foi o croata Modric, um loirinho que se movimenta o tempo todo da linha divisória até a meia-lua de ataque. É ele quem municia o ataque do Real, é ele quem serve de desafogo, quando um jogador se sente pressionado pela marcação. Ele é o Luan do Real.
Modric continuou abastecendo seus companheiros, que continuaram fustigando o novo goleiro, Al Senani, que, por sinal, não é ruim. Ele fez boas defesas e não teve culpa no gol de Ronaldo, nem no de Bale, que, aos 35, recebeu passe de Marcelo e fez 2 a 1.
Depois disso, o Real apenas tocou a bola, enquanto o Al Jazira, sem forças para tornar-se protagonista da partida, contentou-se em perder de pouco. O Al Jazira estava tão conformado que, em certo momento, seu técnico simplesmente saiu do banco, foi ao vestiário e, após dois minutos, voltou, sorridente. Talvez tenha ido ao banheiro, talvez tenha se lembrado que deixou a luz do vestiário acesa ou a chaleira no fogo, sabe-se lá, o certo é que foi algo mais importante do que o que estava acontecendo em campo.
O Grêmio certamente já sabia, todo mundo sabe como o Real joga, mas, neste confronto desta quarta-feira, ficou confirmado: aí está um adversário que ataca com volúpia, mas que oferece espaços para o contra-ataque rápido. Na tarde de sábado do Brasil, noite de sábado nas Arábias, o mundo verá que uso o Grêmio fez dessa informação.