O antipetista inteligente sabe que está, como diria Lula, "lascado". E está lascado porque Lula está lascado.
Pois, se não houver PT, o que sobra ao antipetista?
Sem o PT, o antipetista terá a desagradável e afanosa tarefa de mostrar que tem conteúdo. Terá de apresentar outras propostas, além do combate ao PT.
E agora? Onde encontrar ideias assim, de última hora?
O antipetista inteligente sabe que precisa de Lula na eleição, ou ele, antipetista, não terá bandeiras a tremular.
O MBL é o antipetista por excelência. Cevou-se no antipetismo, vicejou graças a ele, só existe por causa do PT.
Quando, no ano passado, lancei o livro A Graça de Falar do PT, muita gente interpretou que eu achava graça em "falar mal" do PT. Não é isso. É que não tem graça falar de nenhum outro partido, no Brasil, bem ou mal. O único partido orgânico, o único que tem adeptos que se comportam como torcedores de time de futebol ou crentes religiosos é o PT. Então, falar do PT (bem ou mal) desperta paixões (a favor ou contra). Falar dos outros, não. Falar dos outros não tem graça.
O PSDB é um partido de isopor, já disse. Ninguém se importa com ele, salvo, talvez, o Gilmar Mendes.
O PDT, depois da morte de Brizola, virou um zumbi que vaga pelo Congresso como se estivesse assombrando cemitérios.
O PMDB nunca foi partido, sempre foi uma geleca de conveniências, uma agência de empregos.
Os radicais são radicais, os nanicos são nanicos, não há nem mesmo um neoliberal sério, uma direita consistente, nada.
O que sobrou no país, depois das revelações da Lava-Jato? Os renitentes do PT e seus filhos: o MBL.
Eis onde eu queria chegar. O MBL é o antipetista por excelência. Cevou-se no antipetismo, vicejou graças a ele, só existe por causa do PT. Mais: o MBL aprendeu com o PT, usa métodos idênticos, faz o que o PT sempre fez: joga baixo com os inimigos e forma mais do que amigos: forma acólitos.
O MBL é o antipetista ortodoxo. Sendo assim, o esvaziamento do PT o esvaziaria. Mas o MBL reagiu e, surpreendentemente, vem se transformando. Com o PT do tamanho do XV de Novembro de Piracicaba, o MBL perderia o sentido. Mas o MBL percebeu que há demanda pela defesa de pautas morais conservadoras na sociedade brasileira.
Houve um esgarçamento moral no Brasil, um vale-tudo sexual, comportamental e institucional. Nenhuma autoridade é respeitada, seja o guarda de trânsito, seja o policial, seja o professor. Nenhum limite é capaz de conter o brasileiro que protesta por seus direitos e nem imagina que tem deveres, que grita que quer ser feliz sem nem cogitar se merece a felicidade.
O MBL abraçou as causas conservadoras. E, para sua felicidade, angariou a furiosa antipatia da elite artística e intelectual. Com o PT apequenado, o MBL arrumou um novo inimigo para se justificar. Era tudo do que o MBL precisava. O MBL é o antipetista inteligente. Sentiu que está perdendo Lula como razão existencial e encontrou um novo motivo para viver.