Fiquei sabendo que é muito importante beber água com limão em jejum, logo ao acordar de manhã. Limpa as toxinas.
A Gisele Bündchen faz isso, me disseram. Você gostaria de ficar igual à Gisele Bündchen? Tome água com limão de manhã cedo. Venho seguindo a receita e ultimamente tenho me achado parecido com o Tom Brady, só que mais bonito.
Disseram-me, também, que o melhor, se você pretende realmente otimizar esse asseio de toxinas, é beber água com limão MORNA, mas aí já achei uma demasia. Não sou adepto de ingerir água morna. Dá-me certo enjoo.
Quando estive na China, a toda hora vinha um chinês me falar que eu deveria beber água morna. Um deles me garantiu que a água morna é a base da saúde chinesa. Existe inclusive um ditado que diz: "O barco só navega se há rio para navegar". Uma referência às atividades intestinais, que seriam facilitadas pela ingestão de água morna. Até tentei, mas não consegui. Como ensinou Jesus, seja frio ou seja quente, se for morno eu te vomito.
Essa máxima cristã deveria ser uma regra da vida: a tepidez é a falta de tempero, é a cor desmaiada, é o mais ou menos, nunca deveria alcançar bom sucesso. Só que, no caso do Brasil, é o contrário. Pelo menos na política. É o PMDB, um partido insípido e incolor, mas talvez não inodoro, que decide para onde ruma o país.
De certa forma, faz sentido. Todas as vezes em que o brasileiro optou por políticos ferventes ou gelados, de Jânio a Lula, passando por Collor, ele, brasileiro, é que se deu mal. A mornice peemedebista parece menos ameaçadora. Até porque o brasileiro dá a impressão de estar enfarado de polêmica política. Você cita o nome de qualquer um desses pilantras e o olhar do interlocutor se torna distraído e ele começa a discorrer sobre o toque de bola do time do Grêmio ou sobre as pernas da morena do sétimo andar, assuntos bem mais saudáveis.
É a dialética de Hegel na prática. Os naturais movimentos de fluxo e contrafluxo da sociedade humana. O brasileiro se empanzinou de política e de debate e agora quererá leveza.
Você, brasileiro como eu, faça uma experiência, torne este seu fim de semana prazeroso.
Em primeiro lugar, lembre-se de que, como pregava o filósofo grego Epicuro, há mais prazer na simplicidade. Epicuro foi mal interpretado e passou à posteridade como um pândego, quando era o contrário. Um dia ele escreveu a um amigo: "Mande-me um pedaço de queijo, para que eu possa fazer um banquete". Eram assim singelas suas grandes comemorações.
O meu amigo Fernando Eichenberg, o Dinho, faz o mesmo em Paris. Às vezes, ele toma de uma baguete, um naco de queijo e uma garrafa de tinto francês e vai para a bela Pont des Arts e se banqueteia olhando para o Sena. Claro que, nesses momentos, ele está sempre em boa companhia, em geral feminina.
Na falta da Pont des Arts e do Sena, use o Guaíba ou quem sabe sua própria casa. Eu mesmo fiz isso, outro dia: fui ao armazém dos importados e me municiei de uma baguete de 70 centímetros de comprimento, 200 gramas de presunto cortado bem fininho, dois tomates gaúchos graúdos e vermelhos e uma garrafa de tinto. Foi o nosso jantar, degustado aos pouquinhos, a conversa mansa, nada de falar daquela gente, nada de se lamentar. Livre-se das toxinas! A vida fica melhor quando a gente se concentra no melhor da vida.