O velho Roy Larner estava bebendo uma grande caneca de cerveja no Black and Blue, bar encarapitado na Ponte de Londres, quando três terroristas armados de compridas facas invadiram o lugar. Isso aconteceu agora, dias atrás, no atentado da London Bridge.
Roy, para falar a verdade, nem é tão velho assim, tem 47 anos, mas pode ser considerado um genuíno representante das antigas tradições inglesas. Torcedor fanático do Millwall, clube pequeno, mas com 140 anos de resistência no futebol de Londres, Roy está acostumado a vibrar, beber e, eventualmente, brigar como um hooligan.
Foi um hooligan que os terroristas encontraram no Black and Blue. Eles entraram no bar clamando por Alá e, em seguida, entoaram:
– Islã! Islã! Islã!
Para Roy, aquilo deve ter soado como um grito de guerra da torcida do Arsenal ou outro rival qualquer, porque, em resposta, ele urrou:
– Millwall! Millwall! Millwall!
E, urrando "Millwall!" sem parar, partiu para cima dos terroristas. Lutando sozinho e desarmado contra os três, Roy foi esfaqueado na cabeça, no pescoço, no peito, nas costas e nas mãos.
– Havia sangue por toda parte – descreveu, mais tarde.
Sangue dele próprio.
Roy levou oito facadas e foi parar no hospital, mas sobreviveu. Acabou salvando os outros frequentadores do bar e, por isso, está sendo chamado de "O leão da London Bridge".
Os terroristas lutando por Islã e por Alá; Roy lutando pelo Millwall. E Roy, de certa forma, venceu.
Esse time ainda vai ser campeão.
Os britânicos têm uma admirável história de resiliência. No século 1, a rainha Boadicea, que alguns diziam ser uma druida, ou seja, uma bruxa, liderou uma revolta que desafiou as legiões de Roma. Boadicea venceu os romanos várias vezes e só não os fez fugir a nado da ilha porque não havia comparação entre os bravos, porém desorganizados, guerreiros britânicos e a disciplinada máquina militar de Roma.
Mil e quinhentos anos depois, outra mulher, a rainha Elizabeth, venceu a Invencível Armada espanhola.
Os espanhóis chegaram ao Canal da Mancha cheios de confiança, exatamente por se acharem invencíveis, com seus 130 navios. Mas os ingleses, comandados pelo famoso corsário Francis Drake, contragolpearam de madrugada, atirando sobre a Armada navios em chamas. Os espanhóis entraram em pânico, cortaram as amarras dos navios e perderam a coesão. Os ingleses os trucidaram. Para arrematar, uma tempestade deu conta do que restava da Armada. A Inglaterra estava salva. Com essa batalha, Elizabeth foi alçada da guerra para a glória.
Quatro séculos mais tarde, lá estava a ilha de novo em perigo. Hitler havia conquistado praticamente toda a Europa e só a Inglaterra resistia. Alguns líderes britânicos queriam fazer acordo com os nazistas. Essa, inclusive, era a intenção de Hitler, que aceitava deixar os ingleses com todas as suas colônias, desde que a Europa ficasse para ele. Churchill, no entanto, foi ao rádio e anunciou:
– Nós nunca nos renderemos! Nunca nos renderemos!
E a ilha não se rendeu. E venceu.
Confio na fibra inglesa, nessa ameaça contemporânea. Mas o inimigo, desta vez, é mais fluido, mais difícil de combater. Calcule: há 1 bilhão e 600 milhões de muçulmanos no mundo. É verdade que a grande maioria deles não apoia o terror. Não precisa. Basta uma minúscula parcela e haverá milhares de pessoas suportando moralmente e financiando os terroristas.
Essa é a verdadeira guerra do fim do mundo, a guerra das luzes contra as trevas. Que a humanidade se erga, em defesa da civilização, e lance aos ares um grito trovejante de exaltação ao intelecto, à razão, à ciência e à vitória:
– Millwall!