Nesta semana, dei uma entrevista por Skype a alunos do Colégio Dom Bosco. Falei a respeito do meu romance Canibais, lido por eles.
Para mim, foi especial, porque passei boa parte dos meus fins de semana juvenis no pátio do Dom Bosco, nos píncaros verdes do IAPI.
Nós jogávamos futsal lá. Nosso time ficou invicto por um ano inteiro sob sua formação clássica: Diana no gol, este que vos escreve como fixo, Jorge Barnabé e Amilton Cavalo como alas, Plisnou como frente.
Uma vez, pegamos um time famoso no bairro. Eram uns caras mais velhos do que nós, maiores, mais fortes e, admito, melhores individualmente.
Mas individualmente. Nós estávamos acostumados a jogar juntos desde pirralhos. Mesmo assim, sentimos a pressão. Eles jogavam muito, ganhavam na velocidade ou no ombraço e, de repente, estavam diante do nariz do Diana, mandando uns paralelepípedos para o gol. E como chutavam forte, os desgranidos. Cada bola saía numa explosão do pé para a rede. Resultado: o primeiro tempo virou com 4 a 0 para eles.
Aí, enquanto tomávamos água para recompor a dignidade, combinamos: "Na bola, não tem como ganhar desses caras. Vamos apatifar o jogo".
Foi o que fizemos. Um se jogava no chão e gritava, outro reclamava, todo mundo fazia falta, puxava pela camisa, empurrava, provocava, até que os grandões foram se desconcentrando. Aos poucos, começamos a buscar: 1 a 4, 2 a 4, 3 a 4 e, tchum!, 4 a 4. Aí eles, "opa!, o que que está acontecendo aqui?". Tentaram se reequilibrar, mas era tarde. Quando você perde a concentração, não acha mais. No finzinho, o Barnabé meteu uma de revesgueio: 5 a 4, uma vitória para entrar na história do futebol da Zona Norte de todos os tempos.
Depois daquela façanha, os grandões passavam os sábados nos desafiando para a revanche. Nós respondíamos:
– Quem sabe, semana que vem...
Óbvio que não demos chance de desforra a eles. Jogou, está jogado. Ganhamos. Vocês perderam. Tchau, freguesia.
Ou seja: o Dom Bosco me é muito caro.
Mas não apenas por isso. Havia lá, não sei se há ainda, uma pista de patinação. Claro que nunca patinei nem jamais patinarei, não por preconceito esportivo, e sim por falta de destreza. Quem patinava eram as gurias do IAPI. Então, antes do jogo, nós ficávamos à beira da pista, admirando as meninas vestidas com aquelas sainhas mínimas, e tentando nos dar bem. Só tentando, não conseguindo. O único que teve sucesso foi o Plisnou, que namorou com uma moreninha bem bonitinha, a Edna. O Plisnou usava um mullet na nuca e uns óculos espelhados em cima do nariz que encantavam as garotas dos albores dos anos 80.
Por todas essas razões, me entusiasmei ao conversar com os alunos da escola sobre o meu livro. Eles foram muito atenciosos, muito disciplinados, muito inteligentes. E um deles fez uma pergunta que motivou esta crônica que ora escrevo. Mas o espaço acabou. Vou ter que contar qual foi a pergunta amanhã.