O apartamento estava precisando de uma faxina pesada, mas a Marcinha não aprovou o trabalho das últimas faxineiras que vieram. Então, uma americana amiga dela indicou uma brasileira que, atestou, era excelente. De fato, a moça veio e, durante quatro horas, empreendeu uma limpeza profunda e competente.
E cobrou US$ 180.
Cento e oitenta dólares!
Sabe lá o que é isso, pagar R$ 550 por uma faxina? Foi um erro não ter perguntado antes quanto sairia o serviço.
A maioria das faxineiras, todas elas vindas do Brasil ou de algum país da América Central, não cobra tanto. Mas, ainda assim, elas ganham bem. Dirigem bons carros, moram em boas casas.
Fiquei pensando naquela careira, que jamais chamarei novamente. Se ela faz uma faxina de manhã e outra à tarde, recebe mais do que um salário mínimo brasileiro por dia. Se trabalhar seis dias por semana, ganha mais de R$ 25 mil por mês.
Não é uma situação incomum entre os brasileiros que aqui vivem, e são muitos os brasileiros que aqui vivem. Números oficiais dizem que se elevam a mais de 300 mil, mas sabe-se que passam de 1 milhão, porque a maioria reside ilegalmente no país.
Em geral, o brasileiro chega aos Estados Unidos com visto de turista, com validade de seis meses, e vai ficando. O visto expira e ele não sai mais. Conheci alguns que entraram assim. Um deles, o Cláudio, veio aos 18 anos de idade com a intenção de trabalhar seis meses e juntar dinheiro para comprar um carro no Brasil. Terminado esse período, ele tinha o suficiente para dois carros. Decidiu ficar mais um pouco. Está aqui há 20 anos.
Os que não conseguem visto sofrem bem mais. Esses dias, tomei um Uber, e o motorista, Jefferson, era brasileiro. Contou-me que, aos 19 anos de idade, atravessou a nado o Rio Grande, na fronteira com o México, e foi preso pela polícia aduaneira ao pisar no lado americano. Mandaram-no para um centro de detenção no Texas, onde ficou por 45 dias. Por fim, soltaram-no com um visto de um mês, advertindo: "Depois, você terá de voltar para o seu país". Isso aconteceu há 15 anos. Jefferson está casado, tem casa em Framingham e dois carros.
Respeito muito esses brasileiros. São lutadores. São pessoas honestas e trabalhadoras, que constroem suas vidas com esforço, sacrifício e dedicação. Muitos não podem sair dos Estados Unidos, porque seriam proibidos de voltar. Então, tornam-se, na prática, exilados. Longe da família e dos amigos, vivendo num país com cultura, língua e leis diferentes, eles ainda assim seguem em frente, resistem. E vencem.
Essas pessoas poderiam estar fazendo a grandeza do Brasil. Fazem a dos Estados Unidos.
Por que o Brasil não aproveita esses ótimos trabalhadores?
Por que eles passam dificuldades para entrar e permanecer nos Estados Unidos, sem nem saber falar inglês, sem ter direitos trabalhistas, sem ter garantia alguma?
Por uma única razão: porque, nos Estados Unidos, eles encontram trabalho.
Não, o patrão americano não é diferente do brasileiro, as elites americanas não têm mais consciência social, o fato de alguém ter nascido nos Estados Unidos não o torna melhor do que quem nasce no Brasil.
Só existe uma diferença entre os dois países: o mercado. Nos Estados Unidos, há concorrência e, havendo concorrência, há emprego em abundância. A concorrência beneficia o consumidor, o emprego protege o trabalhador. E está feito.
É só disso que o Brasil precisa. Capitalismo de verdade. Será que é demais?