Tanto o Potter rodou a música no Timeline, que tive de assistir ao famoso clipe dos 50 reais, no YouTube.
Famoso mesmo, quase 200 milhões de visualizações.
Gostei.
Uma moça bem fornida descreve com raiva o episódio de infidelidade conjugal ocorrido com ela: o marido diz que vai jogar bola numa quarta-feira, mas, na verdade, está no motel, repoltreando-se com outra. A esposa traída consegue invadir o quarto e o flagra nu, provavelmente em pleno ato. Como prova de desprezo por ele e manifestação de afronta a ela, oferece ao infiel uma nota de R$ 50 "para ajudar a pagar a dama que lhe satisfaz".
É uma história vulgar, mas a forma como ela narra e a gana com que interpreta a canção a tornam irresistível e, o melhor de tudo, engraçada.
Aí está uma evolução da mulher moderna. Antes, só o homem traído era engraçado. O fato de o homem não admitir de jeito nenhum a cornitude, de considerá-la uma desgraça e uma vergonha, tornava-a, na verdade, cômica.
Cheguei a pensar em escrever um livro sobre cornos célebres. Talvez ainda o faça. Abriria com aquele que foi o maior corno da História, o imperador romano Cláudio. O interessante, em Cláudio, é que ele era o mais poderoso homem da Terra, o senhor da vida e da morte de milhões de seres humanos, e, ainda assim, sua mulher o reduziu a uma piada coroada.
Não era uma mulher qualquer, importante ressaltar: tratava-se de ninguém menos do que Valéria Messalina. Tão devassa ela foi, que seu nome virou sinônimo de libertinagem. Há quem diga que as histórias sobre Messalina foram inventadas pela mídia golpista da época, em especial pelo trio Suetônio, Tácito e Plínio, mas eu acredito na mídia golpista.
Esses historiadores contaram que Messalina era tão insaciável, que, à noite, metia-se debaixo de uma peruca morena e ia para a Suburra, o bairro do pecado de Roma. Lá, subia num tamborete e oferecia-se por poucos sestércios aos sortudos passantes.
Messalina sofreria do que, nos homens, chama-se de Mal de Douglas, e nas mulheres, de furor uterino.
Outra que era acometida de idêntico "mal", se isso pode ser definido como um mal, foi Catarina, a Grande, mulher que fez de mais um imperador personagem em potencial do meu livro.
Catarina era uma alemã jeitosinha que se casou com o imperador de todas as Rússias, Pedro.
Pedro, porém, penava por possuir pinto pequeno. Pior: prepúcio premido. Pobre Pedro.
Diante dessa dolorida questão, o que poderia fazer a jovem e inquieta Catarina, a não ser buscar consolo nos viris soldados da corte? Era o que fazia. Seis vezes ao dia.
Pedro, Cláudio e outros tantos seriam protagonistas do meu livro, um livro dedicado a gozar dos homens que levam tão a sério a cornitude. As mulheres sempre me pareceram mais maduras nesse setor. Os homens, não. Os homens se desesperam e reagem fazendo coisas horríveis, como crimes passionais e músicas sertanejas. Mas, agora, o mundo mudou. Contemplando o novo comportamento feminino e deliciando-me com o clipe dos 50 reais, percebo que meu livro precisa de novos capítulos. Assim vai acabar perdendo a graça.