Todos os domingos, abria os classificados do jornal e traçava com a caneta um círculo nos anúncios de emprego que mais me interessavam. Eu tinha uns 16 anos, precisava trabalhar e diziam-me que só existe um pedaço de tempo da semana em que a pessoa pode procurar emprego: a manhã de segunda-feira. Por essa lógica, se você se apresentar ao empregador a partir do meio-dia de segunda, a vaga já estará preenchida ou ele vai olhá-lo com desdém, pensando algo como: "Por que esse cara não veio antes? Ele não gosta de acordar cedo? Não queremos um cara que não gosta de acordar cedo".
O negócio, quando você procura emprego, é parecer madrugador.
Então, às sete da manhã das segundas-feiras, lá estava eu, pingente de um ônibus lotado, a caminho do emprego pretendido. E nunca alcançado. Se tem uma coisa na vida com que você tem de se acostumar, se você for eu, é com a rejeição. É irritante descobrir que sempre tem alguém mais capaz, mais amado, mais desejado e mais madrugador do que você. Sim, porque, quando chegava às empresas, deparava com multidões de candidatos que haviam chegado antes. Como eles conseguiam? A que horas aqueles sujeitos acordavam?
Eu olhava em volta, via aqueles tipos de gravata, e já sabia que não teria chance.
E não tinha mesmo.
Muitas vezes, preenchia a ficha e nem era chamado para a entrevista. Isso me intrigava. O que havia escrito de errado naquela maldita ficha?
Quando me convocavam para a entrevista, era uma aflição. O que vestir? Tinha de botar a camisa para dentro das calças, é claro. Ninguém vai empregar alguém que usa a camisa para fora das calças.
Outra coisa: o sapato. Uma vez, ia saindo de casa para uma entrevista e a minha mãe apontou para os meus pés:
– Tu vais querer arranjar emprego usando tênis?
É fato que calçar tênis é eliminatório, se você procura emprego.
Algumas perguntas que eles fazem nas entrevistas de emprego são muito agastantes.
Por que você quer trabalhar na nossa empresa?
Ora, a resposta certa seria: preciso ganhar algum, então estou aceitando qualquer proposta, mas, depois que estiver empregado, vou tentar algo melhor, porque não pretendo passar a vida inteira trabalhando por esse salário de fome.
Mas é claro que você não diz isso. Você diz que admira muito aquela empresa e que sempre sonhou em ser escriturário.
Uma vez, um entrevistador ficou me encarando um tempão em silêncio. Olhava para mim bem sério. Aquilo foi me enervando. O que devia fazer? Sorrir? Dizer algo? Sorri um pouco, mas não disse nada. Aí ele falou:
– Tire os óculos.
Tirei os óculos. Ele pensou um pouco, enquanto eu ficava vermelho. Por fim, sentenciou:
– Você tem um olhar muito vivo. Muito, muito vivo.
E agora? Ter um olhar muito, muito vivo era bom? Ou era ruim? Eles estavam atrás de alguém com olhar muito, muito vivo?
Não estavam. Ele não me chamou para a vaga.
Um dia, depois de dezenas de manhãs de segunda, consegui um trabalho. Já conto qual.