O rebaixamento do Inter para a segunda divisão é lógico, mas incompreensível.
É lógico pelo desempenho do time no campeonato. É incompreensível pelas condições de que o time dispunha para disputar o campeonato.
O Inter não passa por crise financeira, os salários não estão atrasados e o grupo de jogadores não pode ser considerado um dos quatro piores do Brasil. Mais: os dirigentes que arrastaram o clube para a Segundona são os mesmos que o empurraram para a conquista do Mundial no Japão.
Ainda assim, o Inter ficou seis meses sem ganhar um só jogo fora de casa e refocilou-se em uma sequência de 14 partidas sem vitória, até cair de forma inapelável, numa situação de melancolia completa: tendo como palco um pequeno estádio do interior do Rio, enfrentando um adversário sem nenhuma motivação, assistido por pouco mais de 3 mil pessoas e jogando com o ânimo de quem disputa um amistoso de começo de temporada. A tempestade perfeita.
Como isso aconteceu?
Certamente, há mais coisas erradas nos corredores do Beira-Rio do que pode compreender nossa vã filosofia.
Falei por telefone com Fernando Carvalho quando ele anunciou que aceitaria o convite de Victorio Piffero para ser vice-presidente de futebol do Inter, em agosto passado.
Eu estava no Rio, na cobertura da Olimpíada, e ele estava em Porto Alegre.
Lembro do nosso diálogo. Comecei com uma censura, antes mesmo de dizer alô:
– Ficou louco? Não pega essa! O Inter vai cair!
Fernando admitiu que a chance da queda era grande, mas argumentou:
– Tenho de aceitar, o Inter é o meu clube. Preciso ajudar, nessa hora.
Perguntei se ele sabia o risco que corria, uma vez que sequer poderia contratar novos jogadores. E ele, com alguma tristeza na voz, respondeu que, sim, sabia. E acrescentou:
– Se o Inter estivesse bem, eu não aceitaria.
Fernando Carvalho não topou a proposta de Piffero por vaidade ou por gana de poder, porque, mesmo que conseguisse salvar o Inter do rebaixamento, não se tornaria maior do que era. Fernando Carvalho poderia ter ficado em casa, assando uma macia carne da fronteira, bebendo cerveja uruguaia e assistindo aos jogos pela TV. Não seria acusado de covardia, se fizesse isso. Ao contrário: seria elogiado por sua sensatez. Mas Fernando Carvalho não agiu como um homem sensato. Agiu como um homem apaixonado pelo seu clube.
O revés certamente está fazendo com que lamente, certamente está fazendo com que sofra. Mas o sentimento de Fernando Carvalho pelo Inter é tão intenso, que, se pudesse voltar atrás, tenho certeza, mais uma vez ele aceitaria ajudar.
O Inter está há seis meses penando com este rebaixamento. Brigou, debateu-se, atrapalhou-se todo, prejudicou sua imagem no Brasil inteiro.
Nunca um rebaixamento foi tão sofrido, tão dolorido.
No jogo desse domingo, o time parecia já ter aceitado o infortúnio. De certa forma, é melhor. Assim, o clube começa a pensar no futuro.
Agora é montar um bom time e sair rapidamente da Série B.