Bem na largada do fim de semana, foi me dar um torcicolo violento. Jesus, era uma dor que saía do pescoço e corria pelo ombro e descia até as costas. Lembrei daquela tia do Serginho Villar que sentia a dor da morte.
– É uma dor bem fininha – reclamava a tia, com sua voz de tia.
E acrescentava, soturna:
– É a dor da morte.
Pois a dor da morte tinha cravado suas unhas nas minhas costas e foi aumentando na sexta e já latejava no sábado, até que a Marcinha veio com um pote de cerâmica pintado de azul e branco, redondo como uma pequena panela, não maior do que uma caixa de fósforos Paraná, e anunciou:
– Vou te passar uma pomadinha cambojana.
Estranhei. Pomadinha cambojana? Estava tomando analgésicos poderosos e usando os mais modernos sprays da química ocidental, produtos que os fisicultores aplicam nos jogadores de futebol.
– Foi minha amiga Rita que me trouxe lá do Camboja – explicou a Marcinha, abrindo a tampa do pote e liberando um odor parecido com o de leite coalhado.
Suspirei, conformado. Sou um devoto da ciência, mas, quando a gente está sentindo dor, acredita em qualquer promessa de alívio, passe espírita, macumba, chazinho, qualquer coisa.
A Marcinha espalhou a gosma nas minhas costas e fui dormir. Horas depois, quando acordei... Você não vai acreditar: não havia mais traço de dor. Nada. Mas nada! Sentia-me como se tivesse 18 anos de idade e estivesse pronto para dar meus lançamentos de 60 metros no Alim Pedro. Um milagre. Afinal, dores não passam de um dia para o outro. Dores são como tudo na vida: paulatinas e rapidamente crescentes para começar, paulatinas e lentamente decrescentes para terminar.
Como acontecera aquilo? Peguei o pote da pomadinha cambojana e fiquei olhando, admirado e feliz, que Schopenhauer já dizia:
"A felicidade é a ausência de dor".
Lembrei-me, então, de que outro dia tinha batido com o joelho numa cadeira e minha formosa rótula estava meio dolorida. Resolvi fazer um teste. Passei a pomadinha cambojana no joelho e fui tomar café. Ao levantar da mesa, tive a impressão de que já estava melhor, mas achei que fosse impressão mesmo. Só que, por volta do meio-dia... por Deus, não sentia mais dor alguma no joelho!
Tomei o pote de pomadinha cambojana e corri para falar com a Marcinha.
– Onde conseguimos um latão de 10 litros disso?
Ela hesitou. Farmácias naturebas, talvez? Casas de massagem? Onde? Onde???
Ontem, consumi o dia inteiro correndo as lojas de produtos orientais, atrás da pomadinha cambojana. Quero me lambuzar todo com esse troço, quero viver a vida untado de pomadinha cambojana. Mas não a encontro em parte alguma. Oh, Deus, será que terei de ir ao Camboja para achar a pomadinha cambojana? Ajude-me, caridoso leitor. Me dê uma luz, você que sabe tudo. Preciso da pomadinha cambojana.