O ideal seria escola não ter partido nem mordaça. Digo porque acompanhei, meio a distância, é verdade, o fremente debate que se deu sobre essas duas ideias, semana passada, em Porto Alegre, mais especificamente no Colégio João XXIII. Parece que houve discussões tensas acerca do tema.
Pensei, então, na situação ideal. Mas o defeito do ideal é que ele é perfeito. Assim, quase sempre deixa de ser factível. Afinal, a vida não é reta e as pessoas não são cristalinas.
Exatamente por a vida não ser reta e as pessoas não serem cristalinas é que o ensino de uma disciplina demasiado humana, como História, depende de quem ensina. O estudo da História sempre será ideológico, e mais ideológico será quanto mais próximo for do dia em que é estudado.
Uma ilustração. Em 1972, durante a famosa visita de Nixon à China, o premiê Chu En-lai teria dito que "ainda é cedo para analisar os impactos da Revolução Francesa". A declaração despertou grande admiração no Ocidente. Seria uma espécie de demonstração de superioridade oriental: a civilização chinesa, muito mais antiga e, por isso, mais sábia e mais paciente, entendia que é preciso distanciamento crítico para tirar conclusões sobre os fatos.
Bonito. Mas não era o que Chu En-lai queria dizer. Ele se referia às revoltas estudantis de maio de 1968, lideradas pelo alemão Dany Le Rouge, e não à revolução do século 18, liderada pelo trio de meio-campo Marat, Danton e Robespierre. O que houve foi um prosaico erro de tradução.
O incidente, porém, mostra com precisão como a História é imprecisa – a conclusão do Ocidente foi correta, mas baseada em erro.
Assim é tudo o mais. Cada fato histórico pode ser examinado a partir de diversos pontos de vista. Getúlio Vargas foi o redentor dos pobres ou o verdugo da democracia brasileira? Juscelino foi um perdulário irresponsável ou o grande fomentador do desenvolvimento nacional? Os militares salvaram o Brasil do comunismo ou foram apenas gorilas torturadores?
Depende de quem conta a História.
É verdade que os partidos de esquerda, sobretudo o PT e agora o PSOL, se infiltraram nas escolas e nas universidades brasileiras.
É verdade que as aulas de muitos professores, mais do que ideológicas, são sectárias.
É verdade, também, que, em reação às esquerdas amargamente excludentes, surgiu no Brasil uma direita amarga em igual medida, e que, da mesma forma, conta a História pelo seu viés.
Tudo isso é verdade.
Mas como regular? Como controlar?
Muito difícil.
Mas, felizmente, nem todos os alunos são massas de moldar. O professor diz, o aluno pensa. E é melhor confiar na capacidade de julgamento de quem ouve do que no bom senso de quem fala.