Um dos maiores sites de apostas do Rio Grande do Sul promete, em seus slogans, diversão. Na verdade, isso é uma ilusão. No meu entendimento, uma aposta pode ter como resultado infelicidade ou diversão. Pior ainda: pode se tornar um vício. Afirmo isso com a tranquilidade e a tristeza de quem, como jornalista, fez muitas reportagens sobre jogo do bicho, jogo de cartas, bingos e máquinas caça-níqueis.
Testemunhei muita gente chorando de infelicidade porque vendia a casa, o carro ou qualquer bem material que pudesse ser convertido em dinheiro para apostar. Em alguns casos, o apostador acabava virando alvo de operação policial ou sendo flagrado em local irregular.
Entendo que o marketing das empresas precisa propagandear algo, mas não posso me calar diante de um vício que atingiu, inclusive, pessoas que conheço. É muito triste ver um viciado entre nós. A rede de apoio do viciado precisa conviver, aceitar e ajudar um doente que vende a casa ou limpa a conta bancária para apostar.
Os sites de apostas não são proibidos no Brasil, mas carecem de uma regulamentação federal. Essas casas geram bilhões de reais todos os anos e ninguém as controla. Também não creio que o poder estatal tenha que estar em tudo, mas permitir a prática desta atividade sem regulamentação é um equívoco.
Num passado recente, viciados viajavam para países vizinhos para poder fazer apostas. Hoje, quem quiser pode fazer de casa mesmo, sem a necessidade de viagem.
Antes tarde do que nunca: em julho deste ano, o governo federal editou medida provisória, e um projeto de lei deve ser aprovado no início do próximo ano pelo Congresso. Dar regras ao “mercado bet” é o mínimo que se pode fazer para começar a regulamentar uma área desgovernada. Taxar os sites de apostas é uma forma de gerar receita pública com a “diversão” que gera muito dinheiro. O projeto de regulamentação já foi aprovado na Câmara dos Deputados. Agora falta apenas a aprovação dos senadores. O desfecho depende do Senado e falta muito pouco.