O brasileiro cultiva um hábito curioso: adoração fervorosa por políticos.
No Rio Grande do Sul, essa era uma prática com figuras como Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros, que, por pouco, não se perpetuaram na cadeira do palácio do governo. Uma parte dos gaúchos mantém acesa a chama do "caudilhismo", personificada em Getúlio Vargas, que, em 1930, não fez uma "revolução", e sim um golpe de Estado mesmo. Quando se matou com um tiro no peito, no Rio de Janeiro, o então odiado presidente se transformou em mártir, uma multidão provocou uma convulsão no país. O embarque do corpo lotou o aeroporto do Rio. São raros os heróis que lotam uma cidade.
Leonel Brizola foi outro caudilho, morreu há quase 20 anos, mas plantou sementes Rio Grande afora. Mais tarde, Lula e Bolsonaro passaram a ser adorados. A idolatria levou muita gente a rezar o evangelho bolsonarista e lulista. Um era o "mito". O outro, um deus, um líder incontestável, que não pode ser criticado. Aliás, Lula não permite que ninguém prospere politicamente, ferindo um mandamento importante: ajude a formar um sucessor.
Lula apostou em Dilma Rousseff quando não havia mais opções, seus aliados mais próximos caíram no mensalão ou porque o próprio Lula os podava. Na hora da sucessão, só restou Dilma. Foi um preço que pagamos por adorar políticos. Essa idolatria levou à eleição de Bolsonaro, que cometeu erros estratégicos quando o país mais precisou de alguém para ser líder, durante a pandemia.
A adoração cega por líderes enfraquece os partidos políticos. Sem protagonismo, as siglas não conseguem impor algo fundamental para a democracia: limites. A falta de apreço pelos partidos é o ponto central do excelente livro Como as Democracias Morrem, de Daniel Ziblatt e Steven Levitsky.