Lá por meados do século 19, a expectativa de vida no Brasil era de 30 anos. Na Inglaterra, de 39 anos. Atualmente é de 79,6 anos e de 81 anos, respectivamente. Não é um “fenômeno natural”, trata-se de ciência. É graças ao investimento em pesquisa, ciência e medicina que estamos vivendo por mais tempo. Antigamente, pessoas morriam da noite para o dia, muitas pereciam de doenças não diagnosticadas. Várias, por alguns tipos de câncer. Só que naquele tempo não havia diagnóstico, muito menos tratamento. A anestesia começou a ser usada no Brasil só no princípio do século 19, pelo médico Haddock Lobo, e representou uma revolução para a cirurgia.
Ultrapassamos o momento em que outras crenças se sobrepuseram à ciência. Existem profissionais que trabalham em UTIs de hospitais e precisam enfrentar obscurantistas que não querem que seus parentes internados recebam transfusão de sangue. O próprio João Paulo II (1978-2005) reconheceu que ciência baseada em fatos não deve sofrer interferência religiosa.
No passado, eram muito mais comuns as mortes em guerras e por doenças não tratáveis, como o câncer, por exemplo. Napoleão morreu em 1821 com dores horripilantes na barriga. Ele mesmo atestou que as dores eram tão fortes que só podia ser algo muito grave. Agora, com recursos disponíveis, sabemos o que houve.
Napoleão teve um câncer difícil, mas que hoje, se descoberto cedo, teria tratamento para uma vida duradoura e poderia até chegar à cura. Entre as primeiras dores e a morte do general, foram menos de dois meses. Não tem mágica. Tem ciência.
Houve pesquisa da indústria farmacêutica para uma demanda enorme que renderia, sim, muito dinheiro para os produtores de remédios. Quem vive no obscurantismo sobreviveria sem os remédios? A psiquiatria é uma ciência mais antiga, mas só plenamente aceita mais recentemente. No final do século 19, o psiquiatra era um alienista. Na série O Alienista, doutor Lazslo, personagem principal, recorre aos seus conhecimentos médicos para tentar encontrar um assassino. Lazslo é um personagem fictício, mas muitos psiquiatras devem ter passado por situações de dúvida sobre o trabalho. O filósofo francês Michel Foucault em História da Loucura conta-nos que os “loucos” eram colocados junto com os leprosos num barco. Levados para alto-mar e deixados numa ilha. Era assim que a Europa medieval tratava pacientes com distúrbio mental. A ciência e a pesquisa têm um tempo diferente da nossa evolução. E estamos vivendo mais graças a elas.