Fofocas e maledicências existem desde que aprendemos a falar. Na Antiguidade, por exemplo, quando alguém precisava ser “cancelado” em Roma, espalhava-se um boato para tentar derrubar senadores ou até imperadores. César, que conduziu Roma com mão de ferro, não discutia ou recebia críticas de quem não tinha o tamanho dele. Como só ele era o imperador, não reconhecia a crítica de ninguém. Se isolou de uma maneira que acabou assassinado pelos senadores.
A invenção da impressora permitiu a publicação de livros, que na Idade Média passaram a chegar aos mais pobres, não somente aos aquinhoados. Com isso, se democratizou ainda mais a informação. O que temos agora, com as redes sociais, é transformador da sociedade, mas o público ainda vai precisar se acostumar com as novas ferramentas.
Qualquer um tem acesso ao mundo, que bom. Mas qualquer um também pode espalhar um boato ou repercutir uma foto ou um vídeo. É o poder da reverberação. Ao mesmo tempo, isola o público em bolhas, só ouvindo o que os amigos comentam, só acreditando naquilo que foi endossado pelos mais próximos.
Muitas vezes, é fácil desmentir um boato de redes. Basta procurar: se os jornais e as rádios mais tradicionais não estão comentando, não procede. Esses veículos sobrevivem com informação bem apuradas. As agências de checagem são outra fonte poderosa.
O que temos agora também é um presidente da República que acredita e propala as famosas fake news. Um exemplo: Jair Bolsonaro badalou para seus apoiadores que “o Brasil vive uma situação de pleno emprego, ou perto disso”. O IBGE, vinculado ao Ministério da Economia, calcula em 9,3% o percentual de desempregados na população economicamente ativa. A falta de trabalho pega 10 milhões de brasileiros. O mundo convive com problemas assim, mas estamos, infelizmente, muito distantes do “pleno emprego”. Um presidente deveria oferecer respostas aos problemas, e não maquiar um problema social e economicamente grave.
O discurso de divisão social é propalado há muito tempo. Não começou recentemente, mas Lula ajudou a estimular essa prática. Em 2010, quando se preparava para deixar o Palácio do Planalto, Lula disse, em um comício em Santa Catarina, que o DEM precisava ser extirpado da política brasileira — o partido, na época, era bem identificado com a direita. Lembro que achei aquilo de péssimo gosto. Por que precisamos nos livrar de alguém com quem não concordamos ou de quem nem sequer gostamos? Isso foi antes da explosão das redes sociais. Foi uma bobagem tão grande que não teve grande repercussão.