Pode existir vilania maior do que implantar próteses vencidas em um paciente que está na expectativa e precisa se recuperar de problema ortopédico? Foi o que a Operação Titanium, do Ministério Público estadual, acompanhada pelo repórter Eduardo Matos, descobriu no mês passado.
Na Santa Casa de Alegrete, um dos alvos do MP-RS, foi encontrado uma prótese de quadril vencida há três anos. Em Alvorada, situação ainda mais grave. Os promotores encontraram um depósito de próteses vencidas que seriam revendidas para hospitais. Etiquetas com revalidação de data estavam coladas sobre o prazo de validade.
Duvido que alguém seja informado, antes de uma cirurgia, que vai receber uma prótese vencida. Seria muita ingenuidade pensar nesta hipótese. Muito menos que houve "revalidação". Nenhum paciente deveria passar por essa ação criminosa, de ter implantado no corpo um objeto fora do prazo de validade. Não existe nenhuma justificativa para isso.
Também foram cumpridos mandados judiciais em Porto Alegre, Guaíba e Cachoeirinha. Por enquanto, os alvos são sete pessoas e três empresas. A investigação pretende se estender a ponto de saber se havia mais intermediários no esquema. Os promotores já descobriram que há laranjas e empresas de fachada. Ou seja, é rolo que não acaba mais.
Uma dica para quem se submeter à cirurgia é pedir para ver a prótese antes do procedimento e exigir algum comprovante de qualidade. Os promotores não divulgaram os nomes das pessoas envolvidas na investigação. Não é fácil tirar esse time de circulação.
São antigas as denúncias de máfias nessa área. Em janeiro de 2015, reportagem de Giovani Grizotti, da RBS TV, trouxe à tona a existência de profissionais nada profissionais que comercializavam material fora das especificações. O MP-RS denunciou 13 pessoas, que até hoje não receberam sentença. Houve operações semelhantes em 20018 e 2019, sem julgamento até agora.