Em janeiro de 2004, enfrentei duas grandes filas na National Gallery (entrada gratuita) em Londres para ver telas de Vincent Van Gogh e de Leonardo da Vinci. De Da Vinci era a tela do Cartoon, de Van Gogh era o quadro Os Girassóis. Não sei quantas exatamente, mas, com folga, centenas de pessoas estavam ali. Assim como eu, eram novatos nas artes e vinham de diferentes partes do mundo. Em 2000, estive em Amsterdã, na Holanda, e o primeiro lugar que visitei foi o Museu Van Gogh. Confessando a minha ignorância, fui admirar as telas do maior artista holandês.
Não é preciso ser especialista em pinturas, pode-se ser desprovido de conhecimento cultural - como eu - para considerar um tanto constrangedora e indigna essa forma de protesto que é jogar massa de tomate na tela de Van Gogh. O movimento se intitula Just Stop Oil. Os protestos, que agora ganham as ruas e estradas, antecederam a conferência das Nações Unidas para discutir o clima. Tema de extrema importância, mas os protestos erram na forma, no timing e no lugar. Explico: nunca fomos tão "verdes".
A crise climática é assunto muito sério. O aquecimento global é inegável. A temperatura da Terra está subindo, as calotas polares estão se derretendo, o nível dos mares está mais elevado. O verão está mais quente, o inverno mais frio. Contra fatos não é possível brigar. Mas os protestos são juvenis e infundados.
A energia solar é - agora o que diz respeito ao debate – importante e nunca investimos tanto em combustíveis alternativos. O carro a vapor começou a ser pensado ainda na Revolução Industrial e nunca vingou. O primeiro poço de petróleo, o “ouro negro" - aliás, recomendo o filme Sangue Negro (2007), magistralmente dirigido por Paul Thomas Anderson - foi perfurado pela empresa Oil Creeck, em 1859. O mundo consome atualmente 30 bilhões de barris de petróleo por ano. Na Europa, onde ocorrem os protestos, países conseguiram reduzir a 32% a dependência do petróleo. Os maiores consumidores são os Estados Unidos, seguidos de Rússia e China. Aliás, por que nestes países não proliferam protestos?
A guerra que a Rússia promove na Ucrânia deixa a Europa toda impaciente não pelo conflito em si, mas pela possível falta de combustível. Pode faltar gás enviado da Ucrânia para os demais países na estação mais delicada, o inverno que vai começar agora. As casas, na Europa, são abastecidas com gás para se manterem em boa temperatura. O jornal italiano L'Espresso manifesta sua preocupação em editoriais quase diários sobre a possível falta de gás. A mesma publicação culpou, na sua edição de domingo, a crise "do capitalismo" pelos protestos do movimento Stop Oil. O cientista político americano, Johan Goldberg, escreveu um livro sobre o que ele classifica como crise do Ocidente. Ele admite que existe uma crise do "capitalismo liberal" e diagnosticou que o capitalismo "não é autossustentável".
O Rio Grande do Sul, mesmo, nunca foi tão "verde". Conforme dados do Detran, o Estado fechou o ano passado com uma frota de 6.512 veículos elétricos, entre carros, motos, utilitários, ônibus e caminhões. Ainda não estão espalhados em massa, por causa do preço, são mais caros, mas não é cobrado o IPVA de quem é dono de um veículo destes. As gigantes Randon e Marcopolo já estão investindo em veículos elétricos, seguindo uma tendência mundial.
O promotor ambiental do Ministério Público estadual, Daniel Martini, escreveu uma tese de doutorado numa universidade da Itália sobre tutela ambiental. Martini defendeu que se encontrem novos instrumentos de defesa ambiental. Ele é entusiasta ainda de medidas governamentais para permitir a ampliação da "energia verde". Daniel Martini respondeu à coluna, escrevendo direto de Israel, onde estava conhecendo uma estação de dessalinização de água do mar.
Aqui, cabe aos governos lançarem mão de medidas que priorizem o veículo elétrico. Quem sabe seja uma forma de parar os vândalos e melhorar o mundo.