No último enfrentamento público entre candidatos a presidente da República, o debate da TV Globo que se entendeu até a madrugada, não houve economia em críticas, agressões, ataques, alfinetadas e acusações em discursos que reproduziram a conversa de rua, o papo de bar sobre a eleição. O clima pré-eleitoral se materializou no debate.
O grande confronto se deu entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT), com participação de Ciro Gomes (PDT) atacando Lula em muitos momentos e o candidato do PTB, Padre Kelmon, atuando como cabo eleitoral de Bolsonaro.
Houve um festival de pedidos de direito de resposta entre Lula e Bolsonaro logo no primeiro bloco. Nesta fase do debate, o único momento de vaga discussão de propostas foi quando a candidata Simone Tebet (MDB) perguntou ao candidato Felipe d’Ávila (Novo) sobre o Sistema Único de Saúde.
Como regra, os candidatos parecem ter incorporado aquele preceito napoleônico que manda “lutar antes e ver depois”. Um pouco antes de uma batalha, um soldado perguntou a Napoleão o que aconteceria em caso de vitória. A resposta:
— Primeiro, lutemos. Depois, veremos.
No segundo bloco, com temas sorteados, um pouco de vida real com Padre Kelmon questionando Ciro Gomes sobre educação. Sem dizer de onde sairá o dinheiro, Ciro prometeu “transformar a educação brasileira em uma das melhores do mundo”.
A candidata Soraya Thronicke (União Brasil) bem que tentou falar sobre a questão racial com Padre Kelmon, mas ele partiu para o surrado debate esquerda e direita. Bolsonaro falou sobre a relação com o Congresso num duelo com Felipe d’Ávila, que não poupou críticas à relação entre o centrão e o atual governo.
O tema do emprego apareceu somente ao final do segundo bloco, ou seja, na metade do debate. Ciro perguntou a Soraya, que repetiu a proposta do imposto único “no lugar de 11 impostos federais” e garantiu que vai corrigir a tabela do Imposto de Renda, promessa que o brasileiro está cansado de ouvir, mas que os governos não fazem, afinal, isso representa abrir mão de receita.
Bolsonaro e d’Ávila tiveram momentos amistosos. Num deles, o presidente perguntou o que o candidato do Novo acha de o governo “cair nas mãos da esquerda”. Os dois concordaram que seria um desastre.
Padre Kelmon tocou no calcanhar de Aquiles de Lula, quando perguntou sobre as denúncias de corrupção de pessoas próximas, como Antônio Palloci, homem forte e ex-ministro de Lula, que fez delação premiada e foi preso na Lava Jato. Se a ideia era irritar e desconcentrar o petista, foi bem-sucedida. O mediador, jornalista William Bonner, teve que chamar a atenção, primeiro do Padre Kelmon, depois de Lula, que acusou o candidato do PTB de impostor.
Na maior parte do tempo, esse foi o tom do debate, com os temas importantes para o eleitor deixados de lado ou expressos em intenções vagas. Reformas estruturais de que o Brasil precisa, propostas sobre impostos, transportes, preço dos combustíveis, fome, miséria e desemprego ficaram na superfície. O eleitor desligou a TV sem saber o que pensam os candidatos sobre o que realmente interessa.