O que aconteceu nesta quarta-feira (6) nos Estados Unidos foi o epílogo previsível de uma história lamentável para a democracia americana. A trajetória do país é baseada no privilégio às liberdades, no respeito às leis e na organização da sociedade. Mas o que se viu em Washington estava sendo previsto.
Tanto que forças policiais sabiam que os mais radicais apoiadores de Donald Trump tomariam as ruas. A Guarda Nacional foi acionada, e um dos líderes do grupo Proud Boys, Enrique Tarrio, um radical supremacista, foi preso por desordem ao chegar à capital.
Na tarde quarta, a tempestade perfeita ficou completa quando Trump ressurgiu depois de dias de silêncio público e fez um pronunciamento estimulando a contestação do resultado eleitoral. Era o que faltava para a turba invadir o Congresso, algo inédito na história americana. Nem no auge da Guerra Civil americana se viu nada parecido no Poder Legislativo.
Até os aliados mais fieis do presidente no Congresso jogaram a toalha. Mitt McConnell, republicano, líder da maioria e fiel escudeiro na trincheira de Trump, foi um deles. Da mesma forma, outros congressistas repetiram pelos gabinetes devassados que não houve irregularidade na eleição de novembro.
No Kremlin, Vladimir Putin, inimigo número 1 dos democratas, deve ter assistido com certo regozijo à convulsão em Washington.
Foi um dia ruim para os republicanos. Viram o Capitólio ser invadido e depredado, o que ficará marcado na história como produto republicano, e ainda perderam a maioria no Senado com a eleição de mais dois democratas, na Geórgia.
Depois de toda a confusão e com as contas de suas redes sociais bloqueadas, Trump ainda não desistiu da teoria conspiratória. Ainda assim, prometeu fazer a transferência de poder no dia 20.
Ao deixar a Casa Branca, restará a Trump voltar aos seus negócios — que, agora sabemos, não são tudo o que ele sempre propagou —, um lugar triste na história até então sem máculas da transição de poder presidencial. E já se fala em possíveis investigações pelas conexões com parceiros russos.