O Brasil tem muito a aprender com o caso Robinho. Em 2017, ele jogava num dos maiores e mais poderosos clubes do mundo. Ainda assim, virou alvo de implacável investigação pela polícia, que colocou até uma escuta ambiental no carro para captar conversas do jogador. Em processo aberto, sem segredo algum, ele acabou considerado culpado por abuso sexual em grupo. Ainda cabe recurso, mas os diálogos são devastadores sobre a forma como ele agiu, o que ele pensa sobre uma mulher embriagada e abusada por cinco homens.
Marcado na testa na Europa, achou que encontraria um porto seguro no Brasil. Não só achou, como debochou quando o assunto ressurgiu quando o Santos o contratou. Robinho e o Santos confiaram na leniência e no excesso de tolerância com que o Brasil trata seus ídolos. Se for uma estrela do futebol, então, a tolerância é ainda maior.
Em 2009, o Ministério Público estadual, por meio da promotoria da infância e adolescência, denunciou o ex-coordenador das categorias de base do Grêmio, José Alzir Flor, por abuso sexual, crime pelo qual acabou sendo condenado mais tarde com farto material probatório. Lembro que a revelação do caso foi tratada como um tabu no meio esportivo. Alzir passara 25 anos trabalhando no clube.
O receio em denunciar uma figura que tinha o apoio e trânsito no alto escalão do Grêmio era a principal preocupação das vítimas. Mexer com o futebol no Brasil não é tarefa fácil. Justiça seja feita, um dos poucos dirigentes a tomar medidas assim que soube do caso foi o então presidente do Grêmio, Duda Kroeff, que afastou o profissional. Mas o meio esportivo em geral tratou o tema com um certo desdém, sem a gravidade que o caso realmente revelou, como se o fato de um coordenador da base fosse nada perto da grandiosidade do futebol. O caso Robinho nos ensina que o futebol e suas estrelas não estão imunes à lei, que o crime é crime, independente de quem seja o abusador.