A nova governadora de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), mal assumiu o cargo e já está às voltas com um episódio espinhoso do seu passado familiar que precisa ser enfrentado. Daniela é advogada, produtora rural e se elegeu pela primeira vez, como vice-governadora, em 2018, na chapa com Carlos Moisés (PSL), que acabou de ser afastado do cargo. Novata na política, foi alçada ao comando do Estado — interinamente — e sentirá na pele o escrutínio que um cargo com essa visibilidade exige.
O pai dela, o professor de história Altair Reinehr, é um velho conhecido em Maravilha, pequeno município do oeste catarinense. A notoriedade decorre de um traço, no mínimo, constrangedor: é simpático ao nazismo, já escreveu textos e ministrou aulas relativizando o regime alemão e nega o Holocausto. Na internet, é possível ler textos do professor Altair e ver fotos em que aparece diante da casa onde Hitler nasceu, na Áustria. Aqui, o trecho de um dos textos, publicado em 2005, em que ele nega o Holocausto:
"Encerrada a 2ª Guerra Mundial na Europa, com a rendição incondicional da Alemanha, os Aliados – vencedores e arautos da democracia e da liberdade de expressão – precisavam de pretextos para justificar seus hediondos crimes e ocultá-los sempre que possível. E assim passou-se a falar nos campos de concentração de Dachau (este visitei), Treblinka, Sobibor, Sachsenhausen, Majdanek, Birkenau e outros, especialmente o de Auschwitz, sinônimo de matança de judeus em quantidade industrial. Foi aí que surgiu a lenda do holocausto e o mito dos 6 milhões de judeus mortos em câmaras, onde o gás caía de chuveiros!"
As provas da ligação do professor Altair com a causa nazista são fartas e notórias. Isso foi assunto estritamente familiar para Daniela até assumir o governo. Ela não precisa responder pelos atos do pai. Na terça-feira (27), logo após a cerimônia de posse, em Florianópolis, ela foi perguntada por um repórter do The Intercept se concordava com as ideias do pai, de simpatia ao nazismo e negação da matança de judeus. A resposta foi uma ginástica retórica para não condenar o pai e se esquivar do tema. A nova governadora não precisa falar do pai: ou bem condena o nazismo, ou a pecha de simpatia ao nefasto regime que provocou uma guerra de proporções mundiais e matou milhões de pessoas vai colar e persegui-la como um fantasma enquanto durar o mandato.
Fará bem a governadora se der a única resposta possível para o assunto: uma enfática mensagem de repúdio ao nazismo, para não deixar dúvidas e enterrar o assunto de uma vez. Nem numa sociedade polarizada como a nossa, onde os extremos estão cada vez mais extremos, uma autoridade pública pode sentar na cadeira do governo sem deixar claro seu repúdio a regimes totalitários. Uma nova resposta como a dada ontem só servirá para prolongar o debate.