Ainda no meio do março, época de calor escaldante em Porto Alegre, a cidade foi submetida a rigorosas restrições de circulação para evitar aglomerações. Agora, passados 64 dias do isolamento mais rigoroso, a cidade começa, aos poucos, a ter suas atividades econômicas liberadas. No momento em que os porto-alegrenses vão ser autorizados, mesmo que com muitas limitações, a lembrar de como era a vida antes da pandemia, surge um movimento para tentar fechar a orla do Guaíba. A cada fim de semana ou feriado com sol, a área revitalizada da Orla se enche de frequentadores ávidos por um pouco de lazer. Os moradores da região lançaram um abaixo-assinado pedindo que a prefeitura impeça a circulação no local. A atitude é nobre. O efeito da interdição é nulo. A prefeitura poderá impedir lazer na região do Guaíba. A aglomeração se dará em outro local. O lazer vai mudar de endereço. Isso sem levar em consideração que uma medida restritiva como essa é questionável sob o ponto de vista jurídico, pois impedir o direito de ir e vir em local público certamente iria terminar em batalha judicial.
No início da quarentena, o Ministério Público (MP-RS) precisou alertar a prefeitura de Porto Alegre que iria à Justiça caso houvesse proibição em parques de pessoas com mais de 60 anos de idade. A orla pode ficar aberta, servindo de espaço para um passeio, confirmando que as normas de higiene e distanciamento físico sejam respeitadas. Que mal há se um casal for à beira do Guaíba ver o pôr-do-sol cuidando para não chegar a menos de dois metros de outra pessoa, usar máscara e limpar as mãos com álcool gel com certa frequência?
Cabe também a presença da guarda municipal para orientação permanente e campanha para os cuidados necessários. O exemplo para manter o mínimo de lazer em tempos de liberação do isolamento vem dos Estados Unidos. No Domino Park, na margem do East River, em Nova York, a prefeitura pintou círculos brancos no gramado para indicar o distanciamento entre os frequentadores. Em Seattle, foram fechados para o trânsito de veículos cerca de 40 quilômetros, permitindo que o espaço sirva de passeio. Orla aberta e com atenção às regras para não tirar o mínimo de lazer de uma parte da cidade.