Considerada exitosa até agora por manter sob controle a velocidade de proliferação do coronavírus em Porto Alegre, a estratégia de combate à doença produziu um outro resultado que pode ser comemorado. Uma simulação feita pela prefeitura a partir de um modelo matemático adotado por autoridades de saúde no mundo todo indica que, se nenhuma medida de restrição tivesse sido tomada, a Capital teria hoje 212 mortos pela covid-19.
Desde a chegada da doença aqui, são 14 óbitos. Ou seja, a capital gaúcha conseguiu poupar a vida de 198 pessoas a partir da imposição de medidas de distanciamento social e restrição de atividades econômicas. É o equivalente a um avião Airbus A-321 lotado. Ou, em outra comparação, quatro ônibus da Carris cheios, com pessoas em pé. Neste cenário sem restrição alguma, as UTIs de hospitais em Porto Alegre teriam lotado no dia 15 de abril e hoje, dia 29, o sistema de saúde estariam beirando o colapso, a exemplo do que se vê em capitais como Manaus e Fortaleza.
A ferramenta usada para fazer esses cálculos é o covid-19 Scenarios, elaborada pela Universidade de Basel, na Suíça, e que serve de base para simulação da evolução da doença. O governo do RS tem usado o mesmo software para nortear as decisões em âmbito estadual. Os parâmetros de cálculo levam em consideração algumas variáveis como o número de UTIs disponíveis, o tempo médio de internação nos leitos de tratamento intensivo, a pirâmide etária da população, a prevalência da doença entre a população e o tempo de transmissão de pessoas infectadas.
– Tem gente que nos critica por ter adotado as medidas muito cedo. Começamos a restringir atividades no dia 16 de março. A projeção indica que, se tivéssemos esperado apenas 5 dias a mais para tomar alguma medida, o número de casos seria o dobro. Dez dias, quatro vezes mais. A proliferação é muita rápida. Cada dia é um cenário. E, quanto mais rápido agirmos, mais vidas salvaremos – afirma o secretário de Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer.
Além de poupar vidas, a estratégia de combate ao coronavírus que começou a ser implementada há 44 dias também evitou a ocupação repentina de UTIs. Hoje, a situação é até confortável se comparado a outras capitais. Dos 360 leitos de UTIs reservados para tratar pacientes de coronavírus, 34 estão ocupados e outros 13 são para casos suspeitos. Para manter os bons resultados, o secretário defende o prosseguimento da mesma estratégia nas próximas semanas, sem retroceder no rigorismo. Ele lembra que, aos poucos, setores da economia estão tendo atividades liberadas, como a construção civil e a indústria. Se o quadro seguir desta forma, nos primeiros dias de maio, outros setores poderão receber autorização para funcionar com restrições.