Para todos, agora é aproveitar os próximos dias. A folga prolongada de Carnaval, para os brasileiros, é algo ansiosamente aguardada e planejada. Uns festejam, uns descansam e uns trabalham. Pelo menos neste ano, vou ficar no terceiro grupo. Deixei para viajar depois, porque no início de 2024 uma série de oportunidades de financiamento para pesquisa e inovação foi aberta, num montante que é inédito para padrões nacionais. Só na Finep, diferentes oportunidades de captar subvenção somam R$ 1,5 bilhão em recursos não reembolsáveis a serem aplicados em áreas diversas como energia renovável, cadeias agroindustriais sustentáveis, aviação, bioeconomia e saúde — incluindo terapias inovadoras que desafoguem o SUS.
Para padrões de EUA e Europa, ainda é pouco. Mas existe uma vontade por trás dessa iniciativa. A maioria dos recursos liberados ali não é para universidades: é para empresas. O Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia (FNDCT), um fundo criado de impostos pagos por grandes empresas que exploram tecnologia no Brasil (energia, recursos hídricos, agroindústria), fornece recursos para as empresas contratarem universidades para desenvolver tecnologia. Quem deve administrar o dinheiro são as chamadas fundações de apoio, organizações sem fins lucrativos que, por um percentual, fazem a gestão financeira. E assim a universidade foca seus recursos na pesquisa em si, e não em gestão.
Olha, todos os governos têm problemas, e sabemos que deste atual muitos problemas precisam ser resolvidos. Mas essa é uma iniciativa que precisamos apoiar, pois visa injetar dinheiro em um mercado tão emergente quanto estratégico no Brasil. Uma empresa que busque inovação tecnológica pode procurar e contratar pesquisadores que estejam fazendo o que ela deseja explorar para essa parte que envolve risco, que está sendo assumido pelos recursos do FNDCT. O fato de toda essa verba ser disponibilizada em editais garante uma transparência e uma fiscalização dos gastos bem mais saudável do que a estratégia do governo anterior, que disponibilizava os recursos desse fundo por demanda — o famoso "prozamigo". Nessas, tanto os beneficiários quanto os resultados são um mistério.
O fato de que nestes novos editais a verba é sempre administrada por uma fundação também garante mais um olho nos gastos e cobrança de prazos. Eu queria deixar aqui um apelo para que você, empresário, se inspire a dar aquele salto que falta para desenvolver uma alternativa nacional, uma solução tecnológica para um gargalo no seu mercado. Se você não sabe quem nas instituições de ciência e tecnologia hoje pesquisa na sua área, busque. Pesquise, pergunte. Para os gestores de universidades, fica um apelo para que deem suporte aos seus pesquisadores que querem concorrer com seus projetos nessas chamadas. Estimulem a conexão com as fundações de apoio, ofereçam incentivos competitivos para as empresas. Facilitem prazos de trâmites internos para oferecer agilidade de acordo com as datas de submissão. Preparem-se de acordo com a legislação. Tudo isso pode trazer algo surpreendentemente bom. Para todos.