Estamos nos encaminhando para sair de uma emergência. A vacinação em massa já reduziu drasticamente o número de mortes por covid-19 na maior parte do mundo. Ainda temos áreas com poucos vacinados, principalmente na África e na Ásia, e as crianças precisam ser vacinadas em todos os países. Mas nem deu tempo de respirar e, nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a monkeypox uma Pheic, ou seja, Public Health Emergency of International Concern, basicamente uma emergência de saúde internacional, a ser monitorada.
Essa doença é causada por um vírus da família da varíola e da catapora e tem sintomas semelhantes, inclusive as famosas chagas que aparecem pelo corpo. Há vacina para a varíola, o que erradicou a doença no mundo. Existem dados, principalmente em animais, que ela tem 85% de eficácia contra a monkeypox. Contudo, na verdade, não se sabe muito sobre essa doença. Ela era endêmica da África, mas agora, com a globalização, rapidamente se espalhou. Não é sexualmente transmissível; se transmite pelo contato, talvez por saliva, e talvez por vias que ainda não conhecemos.
Também não sabemos exatamente o quanto a vacina vai proteger. Existe um único fabricante dessas vacinas no mundo, na Europa, e recentemente eles trocaram a fábrica de lugar – por isso, os lotes ainda não foram verificados pelas agências regulatórias. Quem comprou lotes anteriores tem algum estoque. Quem não comprou, como o Brasil, não tem nada.
No Brasil, a vacina para varíola deixou de ser rotineiramente aplicada no início dos anos 1970. Não sabemos se as pessoas que receberam aquela vacina estão imunes. Os EUA compraram milhões de lotes da vacina, mas não estão disponibilizando para a população porque temem ataques de bioterrorismo. Só em Nova York já há mais de mil casos, e as poucas vacinas disponíveis esgotam-se em poucos minutos quando são liberadas. Isso é provavelmente devido ao fato de o primeiro e principal grupo afetado ser de homens que fazem sexo com homens e têm múltiplos parceiros – algo que provavelmente foi detectado antes por consultarem médicos frequentemente. Mas, como já mencionei, esta não é uma DST. Casos em bebês já foram mapeados em Nova York, mostrando que a transmissão se dá na mesma casa.
Essa demora em disponibilizar vacina e acionar os governos para uma emergência de saúde vai custar caro. Parece que não aprendemos nada com a pandemia. Declarar uma Pheic é uma medida para chamar a atenção de governos e do público, convocando gestores e líderes a acionarem políticas públicas de cuidado da população. Esta é uma das razões para eleger um governo: proteção da saúde pública. Esse é um chamado que deve acontecer com mais frequência daqui para a frente. Os gestores precisam ter políticas públicas emergenciais de saúde e saber quando acioná-las. Mas eles precisam estar preparados antecipadamente.
Precisamos aprender com a pandemia. Investir em ciência e tecnologia como política nacional, independentemente do partido político, apoiar cientistas e empresas baseadas em biotecnologia que formem, aos poucos, parte integral do complexo industrial de saúde. A verdadeira emergência hoje é a necessidade de líderes que compreendam e implementem isso.