Nos últimos dias, viralizou um memo afirmando que mulheres, diferentemente dos homens, não possuem cérebro adequado para trabalhar em computação. Ele explicava que havia suporte da ciência para essa ideia. O memo teve autoria identificada: James Damore, funcionário do Google que acabou demitido, e então defendido (!) pela alt right, espécie de "direita pop" nos EUA.
Infelizmente, ainda convivemos com tipos como esse em ambientes de trabalho variados. Sabe aquele que se acha o máximo e adora citar alguma passagem de pseudo-ciência que comprova suas teorias de como todos os de quem ele não gosta são estranhos, ou geneticamente inferiores, com base em cor, credo ou gênero? Aquele cara diante do qual a gente sacode a cabeça, fazendo de conta que não o ouviu, para não estragar o nosso dia.
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Mas, se ele trabalha no Google, as consequências são maiores – e, felizmente, o mundo inteiro responde. James acha que ensina biologia, mas precisa de aulas de história. Foi uma mulher, Ada Lovelace, que escreveu o primeiro algoritmo da computação.
E Grace Hopper foi a primeira pessoa que pensou em escrever comandos de programação em inglês, levando ao desenvolvimento da linguagem COBOL. Margaret Hamilton cunhou o termo engenharia da computação, desenvolvendo softwares para as missões Apolo. Nem o filme, baseado no livro Estrelas Além do Tempo, ele viu, mostrando a história das mulheres negras que eram as "computadoras" da Nasa, como Katherine Johnson, que calculou na ponta do lápis as trajetórias que possibilitaram o primeiro pouso na Lua. Uau, James. Quão pouco você sabe da história do seu campo de trabalho...
O Vale do Silicio é hoje um lugar sexista, mesmo que sua história esteja calcada nas mulheres que eram excelentes nessa atividade e foram expulsas da área, à medida que o campo se tornava relevante. Na verdade, o que a ciência mostra sempre é que a diversidade é benéfica. As diferenças geradas pelo gênero são vantajosas para a espécie e devem ser celebradas, ao invés de usadas para oprimir. Vamos aprender com a História. Vamos deixar claro o que está realmente se passando. É confortável para os medíocres crer que nasceram superiores, quando a sociedade em que vivem referenda a ideia. Mas, ao depararem com algo verdadeiramente especial, que ameaça seu status, eles entram em pânico. E os que tentam diminuir, ofender, ou pior, machucar, como os supremacistas brancos da Virgínia, fantasiando seus argumentos de ciência, precisam saber que não enganam ninguém. Instantaneamente, reconhecemos o quanto são fracos, e eles morrem de medo.
O preconceito é o crachá do covarde. Deixar de responder a esse tipo de agressão só perpetua a tirania da mediocridade. Basta!
P.S.: daqui para a frente, neste espaço, divulgarei um artigo importante de um cientista nosso. Os brasileiros precisam conhecer a ciência do Brasil. Mandem para mim, no e-mail cristinabonorino@gmail.com, artigos de impacto, de diferentes áreas!